A chuva e o choro.

Não gosto desse hiato que engloba o fim e o começo do ano…simplesmente não gosto talvez minha alma solar já pressinta o reinado sombrio das chuvas.

Desde que cheguei aqui em Poços, não teve um só dia que não choveu. No começo foram chuvas passageiras, depois pancadas de chuva e agora uma chuva sem fim.

Ontem a noite comentei com a minha mãe: “se não parar a chuva, vou ter que tomar antidepressivo.”

E hoje, nem a chegada da sexta-feira que sempre me anima trouxe alívio.

E fiquei pensando que toda essa tristeza devia virar bacanice…

Também fiquei pensando de como a natureza e seus ciclos nos ensinam, nos inspiram…

Sempre me rendo ao espetáculo dos ipês que se desapegam de tudo e simplesmente confiam que vão florir, ainda que por poucos dias, mas nesses dias reinarão absolutos em meio a paisagem quase sempre seca e sem vida que os circundam.

Sempre penso na mágica da primavera que chega colorindo tudo depois de tanto frio, uma verdadeira ode ao renascimento, ao triunfo do novo, um exemplo de como a vida tem seus ciclos e cabe a nós vivermos cada um deles…

Na teoria sei de tudo isso, mas minha alma solar sofre demais com o ciclo das chuvas. É um baque físico e emocional. Cada dia a mais de chuva é um dia a menos de energia e sempre fico tentando resistir, mas acho que só hoje compreendi que com a vida resistência é nossa escolha mais equivocada.

Talvez a chuva desse período venha nos ajudar a faxinar a alma e o coração. Venha trazendo, como diz na canção, alívio imediato (ok, não tão imediato assim). Talvez seja hora de abrirmos mão do que já foi, aceitarmos o que não deu certo, sermos gratos pelo o que deu e seguir em frente de alma limpa lavada por tanta chuva.

Gosto de uma frase de um dos meus seriados prediletos da vida, Ally McBeal que diz algo semelhante a isso: “Olhar para trás e reprisar o seu ano. Se não lhe trouxer lágrimas, de alegria ou tristeza, considere seu ano perdido.”

Talvez tanta chuva seja o convite para reprisarmos nosso ano e chorarmos por tudo, pelas alegria, pelas tristezas, por quem escolheu ir e por quem escolheu ficar. Talvez seja o momento oportuno de desaguarmos, esvaziarmos, deixarmos fluir para então abrirmos, de fato, espaço para o novo e celebrarmos o eterno.

E enquanto desaguamos, que nos preparemos para receber o sol quando voltar! E que ele reine absoluto em 2023!

Que em 2023 a gente desague com a chuva, brilhe como o sol e nos desapeguemos de tudo na certeza de que novas flores e cores irão brotar. Que confiemos no fluxo abundante e cíclico da natureza e da vida!

E mesmo triste e cinza e molhado, é sexta-feira amor!

 

Vai escolher a alegria!

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“A gente sempre tem escolha…e até não escolher é uma escolha.”

Durante muito tempo tive muita dificuldade em aceitar essa frase, até que um dia ela passou a fazer tanto sentido, acho que tem a ver também um pouco com a nossa pouca capacidade de assumir a responsabilidade pela nossa vida, afinal, vamos combinar que é tão melhor ter sempre alguém a quem culpar. Tantas vezes sobra pra Deus e o mundo, menos pra nós.

Mas qual o motivo de ter ressuscitado essa frase hoje, nesse particular momento? É que acabei de ser arrebatada por uma frase que compunha a manchete de uma matéria em um portal de notícias e se referia a uma personagem da novela das 18h que sofreu a novela inteira. A frase dizia assim: “Ela vai escolher a alegria!”

Vocês sabem que as palavras me tocam de modo especial, me movem, me comovem, me inspiram… Essa frase juntou um pouco de tudo isso, foi se eu tivesse acabado de descobrir que existe essa opção: Escolher ser feliz!

Sim! É óbvio que ser feliz é uma escolha e mais do que isso, é uma escolha possível!

Mas também é óbvio que em tantos momentos isso não parece tão possível assim. Durante muito tempo não me pareceu uma escolha possível, ao menos pra mim que estava tomada pela tristeza e pela decepção mais devastadora da vida até aquele momento.

Talvez alguém que esteja lendo essa bacanice esteja acreditando na mesma impossibilidade que um dia eu acreditei. Pode ser que alguém esteja tomado pela tristeza e pela decepção e se sinta sem energia pra escolher qualquer coisa que seja. Também pode ser que alguém esteja vivendo um momento de contestar as escolhas equivocadas já feitas…Pode ser tanta coisa!

Mas pra você e pra mim, afirmo que não podemos perder, nem de vista nem de sonho, que há sim sempre a possibilidade da escolha diante de nós. E não precisa de uma coragem absurda não…um soprinho mínimo de coragem já pode ser o suficiente para nos tirar daquele lugar que jamais deveríamos ficar confortáveis: o lugar da tristeza.

E eu encerro essa bacanice inesperada com um convite que a vida me fez anos atrás e que virou um mantra que faço questão de sempre relembrar e mais, faço questão de viver: #EscolheDeNovo #EscolheAmor #Escolhe Milagre…e hoje, adiciono mais uma fala tão necessária e libertadora: #ESCOLHAAALEGRIA!

 

Nossa velha infância

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Tenho ido pouco pra minha casa em Poços, parece que a cidade ficou mais longe, parece que eu ando mais cansada e parece que a gasolina virou ouro de tão cara. Um trio de peso que tem rareado minhas idas e aumentado em muito o tempo que fico sozinha por aqui em Guaxupé. Ainda tem a pandemia que na minha bolha nunca deixou de existir e meu extremo zelo pra não contaminar quem me importa…Tem também a vida, os compromissos da vida…Mas existe, no meio de tudo isso, um espaço sagrado que todas nós zelamos, um espaço do encontro, um espaço de bem querer, um espaço que é abrigo pra tudo o que fomos, somos e seremos.

Na minha última ida pra Poços o universo conspirou e até a mais cheia de compromisso de todas nós confirmou presença logo de cara o que é claro foi motivo pra muitas piadas internas, tirações de sarro e risadas. O fato é que fomos todas almoçar na casa da Denise. Além de uma vida inteira de amizade, a batata frita nos une então, é claro que tinha que ter batata frita e do melhor tipo, a “do nosso tempo”, chips, cortada manualmente e com aquele sabor de saudade sem igual. Na nossa época não existia esses pacotões de batatas fritas congeladas…e ainda bem, porque as chips são as melhores da vida.

Nossos encontros são sempre regados a risadas, por tudo e por nada, tem sempre a Helaine buscando na memória alguém de antigamente que ela reencontrou recentemente, tem sempre as lembranças e agora tem sempre um papo de remédios, doenças, dores aqui e dores ali… Estamos envelhecendo e  disso não podemos fugir, mas ainda conseguimos nos divertir com as novas descobertas da idade. A noção de finitude também começa a frequentar nossas conversas com mais seriedade, mas ainda assim, entremeadas com boas histórias e mais risadas. Meninice e velhice, lado a lado em perfeita harmonia. Meninice e velhice…

Em meio a conversas sérias, risadas, danette de doce de leite e uma vida inteira de amizade o marido da Dê nos proporcionou um túnel do tempo engraçadíssimo e num piscar de olhos tinha trilha das antigas, passinhos, versões erradas das músicas em inglês que até hoje cantamos errado, risadas pelo visual trash dos nossos ídolos da época, suspiros pelo Paulo Ricardo e seu olhar 43 …tinha no presente o nosso passado em forma do bom e velho “nosso tempo”.

Nosso tempo…olhando daqui ele parece de fato bom e velho. Olhando daqui também parecemos de fato boas e já um pouco velhas…Mas olhando bem mesmo somos exatamente as mesmas meninas que se conheceram nos tempos da escola e tiveram a grande sorte de não se perderem por aí e de seguirem compartilhando as meninices e as velhices dos nossos dias…passado e presente da nossa velha infância!

 

 

 

 

 

 

Meu pote de ouro no final do arco-íris

Eu não gosto de finais e também não gosto de começos. Fico desconfortável em ambas situações e por isso, passado o Natal, eu sempre gostaria de dormir e acordar lá pro meio de janeiro, quiçá no final de fevereiro depois de passado o Carnaval e quando a vida pode, finalmente, continuar.

Meus começos de ano não são bons, mas esse está sendo especialmente desafiador e toda vez que a vida aperta, a saudade também. Fui muito mal acostumada e vivi toda a minha vida tendo quem tornasse a vida mais fácil, mesmo quando tudo estava difícil…como está agora.

No meio de um cenário com um monte de coisa fora do lugar, eu vir pra Guaxupé não foi exatamente o melhor no momento, mas foi o necessário. Então vim deixando boa parte do coração lá, vim deixando coisas sem poder consertar, vim querendo ficar. Mas não é de hoje que a vida insiste em me dizer que querer nem sempre é poder.

Nesse momento, não posso nada. E no meu coração tem lá marcado que quem poderia tudo não está mais por aqui e isso deixa tudo mais triste…Me deixa mais triste porque a gente acredita na finitude de tudo e se esquece que, como escreveu lindamente o Carpinejar, amor é o que fica depois de tudo…infinitamente.

Vim carregada de pesos e malas. Nunca aprendo que não vou precisar de nem metade das coisas que levo pra casa.

Fiz 4 viagens da garagem até meu apartamento e juro que levei várias horas até colocar tudo no lugar. Fiz a arrumação sem conseguir arrumar o coração. Ao final, senti uma das malas pesadas de um lado e fui ver o que era já que eu tinha tirado absolutamente tudo de dentro dela. Ao abrir um bolso lateral achei um saquinho lotado de moedas antigas, algumas notas de dólar e de cruzeiro. Impossível não sorrir e impossível não sentir o coração apertar.

Vó Ana tinha por hábito esconder dinheiro na minha mala. Ela guardava todas as moedas e trocos da semana, colocava num saquinho e escondia pra não ter que aturar meu mimimi de que não precisava. Na nossa outra agência, tínhamos o costume de tomar café da manhã juntos e eu que comprava o pão, então ela deixava o dinheiro pra isso e para o que eu precisasse.

Quando ela começou a esquecer as coisas ela não esqueceu seu compromisso de cuidar de mim e pediu pra minha mãe nunca esquecer do dinheiro da “Lita” (que é essa que vos escreve).

Ela tinha muita moeda e nota antiga guardada e é provável que em um dos finais de semana que fui pra Poços e ela com a doença já avançada, ela tenha se lembrado desse gesto e o fez sem se dar conta que era um dinheiro sem valor. Ela também não se deu conta de que anos depois, achar esse saquinho no dia de ontem iria significar tanto, muito mais do que se cada nota e cada moeda tivessem valor monetário. Foi o jeito dela dizer que sabia que estava complicado e que estava cuidando da gente, mesmo de longe. E foi o jeito de aquietar um pouco meu coração tão sobressaltado e preocupado.

Depois de tanta chuva e tanta tristeza, Vó Ana veio, mais uma vez, como fez por todos os dias da minha vida, como um pote de ouro no fim do arco-íris, aquele mesmo que vem depois da chuva sinalizando dias melhores e solares e floridos, como a Vó Ana sempre providenciou.

 

 

Nossos cansaços…

Ando cansada e não é aquele cansaço que passa com uma bela noite bem dormida.

Ando cansada e não é aquele cansaço que em um final de semana se recupera.

Ando cansada dos adiamentos de tantos quereres, ando cansada das impossibilidades, ando cansada do pouco, ando cansada do de sempre, ando cansada…

Ando cansada dessa vida adulta que não dá trégua.

Ando cansada de não poder pegar o carro e ir pra casa.

Ando cansada de fazer más escolhas de penitência (kkkk).

Ando cansada de não poder voltar a correr.

Ando cansada da pandemia que só  existe ainda na minha bolha.

Ando cansada de não ver o mar e não sentir o vento.

Ando cansada do céu enfumaçado que embaça meus horizontes  e nem dá pra vislumbrar dias melhores.

Hoje acordei cedo e me dediquei às minhas práticas diárias e me peguei cansada de ter que ter práticas diárias pra me manter medianamente saudável, razoavelmente lúcida e minimamente esperançosa.

Ando cansada de ser madura, de relevar, de perdoar quem jamais pediu perdão e nem sequer desculpas.

Ando cansada de sentir demais.

O corpo cansado é um mau abrigo.

Uma mente cansada é má conselheira.

Um coração cansado é só um músculo involuntário que pulsa só por pulsar…

Ando cansada…e só!

 

O nosso lado B.

Adoro uma frase que diz algo mais ou menos assim: “Amigo é aquele que sabe tudo a seu respeito e, mesmo assim, ainda gosta de você.”

Saber tudo a respeito de uma pessoa (ou quase tudo) demanda tempo, convivência, intimidade e uma ligação rara.

Dia desses li uma postagem que descrevia lindamente o lado A de uma pessoa que eu conheço bem. Achei graça, porque aquela pessoa descrita, estava longe de ser a pessoa de verdade. Igual quando a pessoa morre, vira santo! Não, não somos santos e isso é bom.

Ser de verdade não é tarefa fácil e permitir que conheçam nosso lado B é tarefa ainda mais difícil. É muito mais cômodo convivermos com pessoas que só conhecem nosso lado mais bacana, mais afável, mais gentil, mais correto, mais um monte de adjetivos e menos o principal, o de verdade…quem somos de fato que obviamente inclui nossas sombras.

Todos temos nosso lado A e nosso lado B. Mas é um desafio de imensa valentia se deixar conhecer no que temos de menos bonito. Em uma fase bem horrorosa da minha vida, em algum lugar de mim eu sentia vergonha de quem eu tinha me tornado e o reflexo disso foi que me afastei das pessoas que mais me conheciam. Por exemplo, nunca podia comparecer aos nossos tradicionais encontros nos quais falamos de absolutamente tudo, do papo mais cabeça ao mais sem pé e nem cabeça, e que temos como tradição sempre fechar os lugares que vamos de tanto assunto que temos juntas.

Comecei a fazer terapia e lá um dia recebi um “dever de casa”: ligar pra essas duas amigas que me conheciam tão bem e me encontrar com elas e dizer inclusive o motivo de eu estar envergonhada de encontrá-las. Dizer que estava envergonhada delas, me conhecendo tão bem, me olharem e me verem tão devastada, tão fragilizada e tão distante da amiga forte e durona que conheciam. Vulnerável como nunca antes e também humana como nunca antes. O que posso dizer é que foi um dos melhores encontros da vida, com elas, mas especialmente comigo.

Lendo aquela postagem eu me lembrei dessa sensação de vergonha e compreendi que é muito mais fácil ter ao nosso lado pessoas que passam longe do nosso lado B. Que não imaginam do que somos capazes, do quão egoístas podemos ser, de quanta dor podemos provocar, de como podemos fazer escolhas equivocadas e do quão humano isso tudo é. Pode ser mais fácil, mas também é tão menos verdadeiro.

Abrir meus porões naquele dia foi uma das coisas mais difíceis que já fiz, mas ter quem escolhesse continuar sentado do meu lado nesse porão, quem escolhesse me fazer companhia nesse momento de vergonha foi a melhor sensação da vida. E foram essas pessoas que fizeram questão de então me lembrar do meu lado A que eu até havia esquecido que existia.

No final das contas, ninguém consegue ser de verdade sendo só lado A ou só lado B. Somos essa confusão de luz e sombra e mais cedo ou mais tarde isso vai ficar claro e pobre de quem só conseguiu ver e conhecer a ilusão do lado A.

E finalizo com uma outra frase que adoro e que vez ou outra revisito quando me perco de mim no caminho: “O melhor espelho é um velho amigo!”. Que tenhamos aqueles espelhos capazes de refletirem nosso lado A, mas que conhecem bem o nosso lado B também e ainda assim seguem gostando de nós.

Obs: Só hoje quando fui buscar a imagem pra essa bacanice que me dei conta de que muita gente não faz ideia dessa coisa do lado B. Para quem não teve o prazer de ouvir suas músicas prediletas nos discos vinis, o lado A sempre trazia a versão mais comercial, as músicas feitas para serem hits, tocarem nas rádios e todo mundo cantar junto. O lado B escondia algumas preciosidades que não tinham esse apelo comercial, mas conquistavam os fãs de verdade do artista ou banda. Exatamente como acontece com o nosso lado B. De verdade!

“É preciso sair das cinzas que existem dentro de nós.”

“É preciso sair das cinzas que existem dentro de nós.”

Ontem ouvi essa frase numa matéria sobre a recuperação do Museu Nacional que recentemente foi devastado pelo fogo e restaram muitas cinzas. Não me atentei para quem estava falando uma das frases mais sábias e profundas que ouvi nos últimos tempos e que me tocou tanto.

Fiquei pensando o quanto de cinzas trazemos acumuladas em nós e como é fácil nos perdermos nelas.

Distraídos que somos, é possível que nem percebamos quando a vida sopra erguendo essas cinzas de lugares que nem lembrávamos existir e quando nos damos conta, nosso olhar está turvo e já não conseguimos ver com nitidez cores, flores, amores e os encantos da vida. Só vemos essas minúsculas partículas de dores passadas, mágoas, más lembranças…um relicário das nossas tragédias particulares sendo revisitadas em pequenas partículas de tristeza, momentos que nos marcaram tão negativamente que mesmo passado tanto tempo ainda nos vemos presos a eles.

Eu tenho certeza que muita coisa que dizemos que são águas passadas são apenas cinzas que varremos pra debaixo do nosso tapete emocional e, mais cedo ou mais tarde, teremos que lidar com isso…seja pra empurrar novamente, ou seja pra limpar.

Talvez não seja possível limpar completamente algumas cinzas que já são parte de nós, mas sempre é possível arrumar um lugar melhor para armazenar de um jeito que evite que a vida sopre tantas vezes causando tanto transtorno.

Essa frase parece ser uma antítese de todo super heroísmo que está em moda que jura somos capazes de tudo,  de superar tudo, apagar tudo, perdoar tudo…Não acredito que sejamos tão super assim. Mas acredito que somos capazes de lidar melhor com esse amontoado de cinzas e acredito mais ainda  que passado o vendaval, as cinzas vão se acomodando e num momento de descuido desse nosso apego a essas dores, seremos capazes de escapar das cinzas que existem em nós.

E nesse momento, a vida volta a ganhar cor, flor, amor e encanto. Porque a vida tem lá suas cinzas, mas tem muito mais cor, flor, amor e encanto. Que rendamos nossos olhos a eles, na maior parte do tempo, até que um novo sopro de vida bagunce tudo e levante as cinzas promovendo uma nova imersão em nosso submundo que sempre vai existir, mas ao qual jamais devemos sucumbir.

 

 

 

 

 

 

Fracasso de aniversário

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“Você é basicamente uma planta com emoções complicadas.”

Adoro essa frase e sou a rainha das emoções complicadas e por isso preciso tanto desse combo: água, sol e terapia.

Eu sempre tive muitos gatilhos e nem sabia que eles existiam. Quando aprendi, me dediquei a ser mais atenta a eles e a mim então, sempre identifico um gatilho no exato momento em que ele dispara uma explosão de sentimentos. Isso não impede os estragos, mas me faz sentir com um certo (ilusório) domínio.

Eu sou fanzaça da Paola Carosella que é uma super chef de cozinha e uma pessoa iluminada, inteligente, bem sucedida…todas aquelas coisas que eu queria ser quando crescesse e não sou. Pois eu tenho uma grande amiga que também é fã dela e dia desses estávamos comentando sobre ela e essa amiga disse: “Ela é foda e é da nossa idade!”

Pronto! Gatilho! Imediatamente pensei: sou um fracasso! E todo dia desde então me sinto um fracasso.

Eu nunca fui muito fã de aniversários e não tem nada a ver com ficar mais velha, embora eu esteja ficando mais velha muito mais rápido do que imaginei. Eu, nem sei bem o motivo, sempre achei que o aniversário só valia a pena ser comemorado se a gente olhasse pro nosso ano e tivesse lá uma grande conquista. Então, como minha vida é meio medíocre em termos de grandes conquistas, nunca vi motivo pra celebrar de verdade. E é por isso que a história da idade da Paola foi um gatilho.

Daqui pouco mais de uma semana é meu aniversário e de novo não tenho nenhuma grande conquista pra comemorar. Nem lembro muito dos sonhos pro futuro, mas sei que o futuro que chegou não é lá muito parecido com o dos sonhos. Talvez, durante a vida toda, eu tenha sonhado errado. Sonhado planos que não eram meus de verdade, sonhado roteiros que não coincidiam com os roteiros que a vida escreveu pra mim.

Nessa última semana os equívocos têm me assombrado, as más escolhas, a insistência mais equivocada e desastrosa da vida, a escolha por uma profissão que ninguém respeita e que não faz diferença no mundo…o fracasso.

Eu também gosto muito de uma frase que diz que quando a gente se compara a gente sempre perde e que não devemos comparar o palco dos outros com o nosso bastidor.

Eu sei que os bastidores da Paola foram e são de muita luta, muito abrir mão disso e daquilo pra chegar lá…

Eu também sei que os meus bastidores têm sido de muita luta, muito mais do que eu achei que teria e nesse ano tudo tem saído tão errado e diferente do que eu imagino ser o certo. Em algum lugar, diante de tanta luta, eu achei que devia merecer mais, mas acho que a vida não concorda muito com isso. E talvez o meu “menos” seja olhado por alguém como algo a se conquistar…vai saber.

O que sei é que esse sentimento de fracasso vem dessa mania besta da gente esperar coisas de mais da vida. Eu sempre acho que a vida também esperava mais de mim e por isso estamos ambas frustradas. Porque é isso que dá a gente criar muita expectativa. Talvez seja um bom plano para o meu próximo ano novo particular não ter grandes expectativas, sonhar miúdo, desejar miúdo e parar de me comparar. Talvez a Paola também tenha lá seus dias de frustração e de fracasso. Talvez…

Não sou quem eu queria ser quando crescesse, mas tenho sido o melhor que eu posso e meus gatilhos todos têm me feito mais valente. Sem criar muita expectativa, mas já criando, espero que num futuro breve eu possa olhar o meu ano e enxergar e valorizar mais a valentia do que os fracassos, mais os acertos do que os erros…mais no lugar do menos.

E hoje, encerro a bacanice com uma frase emprestada do Caio Fernando Abreu em quem tanto me reconheço. E talvez essa frase mereça ser um luminoso lá em casa pra quando a sensação de fracasso me visitar. Ninguém que tenta da maneira mais bonita que sabe é de fato um fracassado…ainda que pareça!

“Acho que fiz tudo do jeito melhor, meio torto, talvez, mas tenho tentado da maneira mais bonita que sei.”

 

 

 

Vai passar…

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Não sei pra vocês, mas pra mim essa foi uma semana pesadíssima. Não tenho tido a menor vontade de escrever, mas sempre que isso acontece é que a escrita se faz mais necessária. Tá tudo ruim, coisas dando errado, a humanidade dando errado e isso traz aquela sensação devastadora de fim, de nunca mais, de não tem mais jeito. Eu tô sentindo tudo isso enquanto escrevo, e por isso escrevo.

Hoje, escrevo pra vocês o que precisava ler: “é só uma fase (horrorosa, longa e triste), mas vai passar.” Sempre passa e nesse momento o que importa é o que fica, o que ficará. Como você quer entrar pra essa história?

Eu entendo os isentões (mentira!) a história é cheia deles. Mas que tipo de história vamos contar como sobreviventes? Como testemunhas desse tempo antes inimaginável? Sim, é hora de tomar posição e isso não tem a ver com política (ou até tem), mas como isso virou uma desculpinha bem esfarrapada, digamos que isso tem a ver com o que resta de humanidade em você.

Ficar rogando a Deus é um caminho, cômodo. Mas é agora que você vai decidir se vai sentar numa cadeira de balanço mais à frente e sentir seu coração se despedaçar, mas olhar com orgulho ou vai ser o personagem de uma vergonha que jamais passará?

Duro ouvir isso né? Mas certamente será mais duro nunca pensar nisso.

É uma fase e vai passar, as más fases sempre passam. Demoram, deixam marcas…Quais as marcas que a história está deixando em você? Quais as marcas que você está deixando na história? Um dia alguém vai contar esse período nos livros, porque sim, os livros resistirão, assim como a verdade.

Tomara que tenhamos orgulho do capítulo que nos caberá!

É isso, hoje meras divagações de quem está tão nublada quanto o dia. Mas que segue sendo solar e acreditando na luz e na força do bem que é milhões de vezes mais forte que a do mal, só está adormecida, mas vai acordar. Talvez só falte você! “E você de que lado está?”

Pessoas fáceis para os nossos dias difíceis.

Sabe, eu nublo fácil, por isso talvez essa necessidade tão presente de sol. Hoje foi um dia pesado que só, aliás, tem sido uma coletânea de dias difíceis e pesados.

Do mesmo modo que nublo fácil, sinto muito tudo e esse mundo é cada vez menos o lugar pra gente como eu. Todo dia que ligo pra minha mãe e conto como estou brava e indignada, ela muito sábia e serena me diz pra deixar pra lá porque ultimamente tenho feito muito mal pra mim e o mundo segue nem aí pra minha revolta. Acho que de certa forma ela está correta no conselho de mãe.

Pra ajudar, recentemente tive que abrir mão da terapia e pensa numa pessoa que gosta da terapia. A terapia me ajuda a me entender, me ajuda a elaborar essa vida intensa que exige tanto de mim e acreditem, isso significa tanto!

Não gostei nada desse negócio de crescer e ter que fazer escolhas. Eu sempre ouvia que quando a gente escolhe uma coisa, automaticamente, a gente abre mão de outra, mas acho que não é pra mim abrir mão da terapia. E talvez seja melhor pro mundo também que eu não abra mão…(risos).

Mas em meio aos dias difíceis, a coisa que mais me comove, são as pessoas fáceis.

Vivemos em um mundo bem egoísta e virou uma máxima essa coisa de não contar as coisas pros outros porque vão sentir inveja. Pode até ser, sei lá, não ando sabendo de muita coisa, mas sei o valor de quem escolhe dividir a vida com a gente no que ela tem de melhor, de mais ou menos e de pior. É isso que é dividir a vida, o resto é ser parça e Deus me livre de ter “parças”.

Hoje, no meio da manhã, recebi uma mensagem de uma amiga que me emocionou pela delicadeza e consideração. Ela não tinha obrigação nenhuma, mas fez questão e ter quem faça questão da gente em um mundo tão descartável é mesmo de emocionar.

Fiquei emocionada e orgulhosa porque a vida não é fácil e vez ou outra ainda fica difícil. E temos bem à nossa frente a escolha de sermos melhores. Só que ser melhor dá um trabalho, leva tanto tempo, consome tanta energia que muita gente escolhe ser pior mesmo. Não essa minha amiga! Eu imagino a dificuldade do processo. Eu imagino quantas vezes ela teve que passar por cima de algumas “verdades absolutas”. Eu imagino…

Escolher de novo, escolher amor, escolher milagre é, sem dúvida, uma daquelas coisas que ficam super bem acompanhadas de hashtags namastê, mas que no miudinho dos dias exige de nós mais do que achamos ser capazes de dar.

Mas essa amiga se fez capaz de muito, de ser grande, de escolher de novo e de me escolher pra contar isso. No meu dia pesado ela foi a melhor pessoa fácil.

Eu sei que dias não muito melhores virão, então desejo, de todo o meu coração, que pra cada dia difícil a vida nos presenteie com pessoas fáceis e desejo que também nós possamos ser as pessoas fáceis dos dias difíceis de alguém.