Sou filha legítima do sol! Nasci na plenitude de seu reinado e tal qual um girassol sou nutrida, corpo e alma, pelos raios do sol. Minha versão zumbi surge triunfante ao primeiro contato com o cinza dos dias nublados ou com as gotas de chuva que caem insistentemente fechando o verão. Mas tenho que confessar, já não é de hoje que sinto meu coração pulsando a gritar: ilegítima, bastarda, salgada…és filha do mar! E quanto a essa verdade não tenho como negar. Meu coração que buscava um porto seguro, hoje quer mais é navegar. Âncoras, capitães, conchas e sereias vieram, sorrateiramente, o meu mundo habitar. Agora, já não vejo a hora de pegar estrada e me jogar nas águas do mar…
De tempos em tempos é como um chamado e o vento salgado vem me buscar. A primeira onda vem disfarçada de saudade que eu finjo não ser nada embora sinta o coração apertar. Vem então a onda do cansaço e um pedido quase de joelhos por férias que de novo eu ignoro e toco em frente porque a vida não dá pra parar. Durante o dia de trabalho, vez ou outra, me pego olhando pro meu novo painel de dias melhores que, bem de frente à minha mesa, parece me lembrar dessa saudade, que é preciso matar, trazendo em sua arte “um barquinho a navegar no macio azul do mar.” Penso então em uma propaganda da cerveja Sol que eu adorava e que dizia algo assim: “cada desejo que a gente não realiza, é um pouco de luz que a nossa vida perde e cada vontade que a gente realiza é um brilho que volta!” E como derradeira sacanagem vem o Nando Reis a cantar na minha cabeça dia após dia: “Quando a gente fica em frente ao mar, a gente se sente melhor…” E como a gente se sente melhor em frente ao mar, Nando! E como! Não precisa de muita coisa não…a areia, o sol, o mar e a gente ali, bem de frente pra ele, pra olhar, pra nadar, pra pedir sua benção, reverenciar e lavar a alma deixando pra traz todo nó de marinheiro que nos mantém atados ao que já não faz mais sentido. E pronto! É batata! Quando a gente vê, já tá se sentindo melhor.
Mas a vida, ah a vida é um infindável ir e vir de saudades… olhando pro mar logo o coração se aperta e dá saudades de casa, do verde sem fim das montanhas que tocam os céus, das aves que aqui gorjeiam e não gorjeiam tão lindamente lá…sinal de que é hora de pegar estrada e subir a serra…antes do mar sumir, uma última olhada e a despedida com um íntimo “até a próxima”, porque é assim, quando a gente coloca um “a” no início o mar fica infinito e quem ama infinitamente o mar não consegue ficar longe por muito tempo.
Cada dia melhor!
Nossa de arrepiar. E é o mar chamando pra nos fazer bem!!! Mais um lindo texto!