.:Bacanices.:

Estava combinado e foi por amor.

Pois é, a semana começou cinza e chove por aqui, mas pode ficar sossegado que, para alívio geral,  não vou escrever sobre o quanto não gosto de chuva (embora não goste). Vou escrever sobre perdão. Mas de onde eu tirei isso de escrever sobre perdão? Bom, esse é meu maior desafio nessa existência. Sou rancorosa, um poço profundo (acho que sem fundo) de mágoa e reconhecer isso e não fazer nada a respeito não ia servir pra nada. Já li muito, já estudei muito, já pratiquei muito, mas confesso que ainda é muito pouco. Eu até nem dou muita ênfase naquela parte do Pai Nosso que fala de perdoar como eu tenho perdoado quem tem me ofendido porque se forem levar isso a sério eu tô lascada na eternidade. De vez em quando até ensaio um “perdoai as nossas ofensas, muito mais do que eu tenho perdoado a quem tem me ofendido”, mas como não sei se Deus é afeito a interferências no seu texto, não abuso da minha versão. Semana passada, acho que na sexta, foi celebrado o Yom Kipur, dia do Perdão no Judaísmo. Fui estudar um pouco o assunto e achei tão bonita a sacralidade de todo o rito que envolve jejum e orações…até porque acho  que podemos fazer a nossa parte, mas perdoar, perdoar mesmo, é um ato que só acontece quando Deus age em nós. Bom, a ideia é que o texto não tivesse uma pegada tão religiosa, então, quem já leu até aqui, entenda como apenas uma referência, sem intenção de catequizar ninguém… então segue o baile… Ano passado, fiz um curso chamado A Verdade Nua e Crua e um dos momentos mais emocionantes foi um exercício de perdão. Apagaram-se as luzes, no telão no palco ficou “acesa” uma fogueira crepitando e a Flávia Melissa conduziu o exercício contando a história da Pequena Alma. Eu acho que é a história mais linda de perdão e acho que todo mundo que tem filho devia contá-la desde o berço…e devíamos ouvir nas escolas, e devíamos enviar aos amigos nas datas importantes e nas datas sem importância nenhuma. Só acho que esse texto, essa história evitaria tanta dor e facilitaria tanto nosso entendimento de perdão. Vou contá-la breve e resumidamente aqui. A história é sobre uma pequena alma que se descobre luz e em uma emocionante conversa com Deus decide que além de saber-se luz, quer experimentar sentir-se luz. Deus então diz a ela que o único jeito é ela conhecendo o oposto da luz, a escuridão e que essa é uma linda experiência de se conhecer os opostos porque um não existe sem o outro, o quente e o frio, alto e baixo e por aí vai. Deus diz que ao vê-la brilhando na escuridão, todos saberão que ela é especial, e explicou que especial não quer dizer melhor, apenas diferente. Deus, pacientemente , explicou à pequena alma várias maneiras de ser especial e ela escolheu que queria ser a parte especial chamada perdão. Deus então explicou que não havia ninguém a quem ela perdoar porque Ele só havia criado outras almas tão perfeitas quanto a pequena alma. Ela olhou ao redor e viu que um bocado de outras almas tinha se aproximado para ouvir aquela conversa e ela reconhecia que todas eram maravilhosas e que tinham tanta luz que ela mal podia olhar para elas. Ela ficou decepcionada porque o maior desejo do seu coração era se experimentar luz, especial, podendo perdoar. Mas eis que do meio dessas almas que haviam se reunido uma se oferece para ajudá-la nessa experiência. A alma amiga se dispôs a entrar na próxima vida física da pequena alma como o mal para que ela então tivesse a oportunidade de perdoar. A pequena alma mal podia acreditar naquilo e não entendia como uma alma tão maravilhosa que vibrava a uma velocidade tão alta e pura que era capaz de gerar aquela luz tão bonita ia, simplesmente, renunciar a isso para ser escuridão. Eis que a alma amiga responde: farei porque te amo e já estivemos tantas vezes juntas, e em cada encontro fomos vítima e vilão na vida uma da outra e dessa vez eu serei a má. O único pedido da alma amiga foi que no momento que fizesse a pior coisa à pequena alma ela ainda fosse capaz de lembrar-se de quem ela era porque senão ficariam ambas perdidas nesse existência,  esquecidas de quem eram. E assim foi feito. A pequena alma aproveitou cada oportunidade para se experimentar como perdão e agradeceu qualquer outra alma que tornou aquilo possível e em todos os momentos, quer lhe trouxessem alegria ou tristeza, especialmente se trouxesse tristeza, a pequena alma pensava no que Deus lhe tinha dito sorrindo: não te enviei senão anjos. Eu sempre termino essa história emocionada e espero que você que me lê tenha se emocionado também e ganhado uma nova perspectiva sobre o perdão e sobre nossos encontros dolorosos por aqui. Não tenho a pretensão de ensinar ninguém a perdoar ou dizer que isso é obrigatório e dar os caminhos para que isso seja possível. Cada um faz sempre o melhor que pode. É que perdão é um tema tão difícil, cercado de tanta dor e escuridão que achei que seria uma bacanice só compartilhar com vocês um jeito mais amoroso e lindo de lidar com o tema. E termino torcendo pra que a partir de agora, tal qual a pequena alma, você possa se relembrar, no exato momento da dor, que tudo estava combinado e que foi por amor. Talvez assim, fique mais fácil perdoar. Não porque você é melhor, mas porque somos todos especiais e anjos aprendendo lições humanas. 

 

 

 

 

 

 

1 comentário em “Estava combinado e foi por amor.”

  1. Bom dia, engraçado como veio a calhar pois é um teme que tenho pensado tanto e qual tenho muita dificuldade . Obrigada este texto e lindo .

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