Eu adorava um seriado chamado Ally McBeal. A Ally era o que podemos chamar de Drama Queen. Tudo na vida dela era mega dramático e parecia que o mundo inteiro girava em torno dela. Um dia, uma outra personagem perguntou a ela: “Porque seus problemas são maiores do que os dos outros?”. Sem titubear ela respondeu: “Porque são meus!” Vibrei!!! Primeiro, porque quem perguntou era uma chata que havia casado com o Billy, amor da vida da Ally. Segundo, porque eu achei essa uma verdade tão verdadeira e comecei a achar tudo bem meu aflorado lado mexicanamente dramático. Mas aí, pensando bem, como sou sortuda e abençoada e perto das dores do mundo, minha vida é um mar de rosas (e de girassóis). E se a minha vida é assim, e olha que vivo momentos bem lascada, fico imaginando esse povo mimado que tem tudo e não é o suficiente. Naturalmente, tenho pouca paciência, mas ando tendo tolerância negativa pra mimimi de quem é cego para o tanto de bençãos que tem na vida e que olha para os probleminhas com lente de aumento. Primeiro fico bem irritada, mas depois sinto certa dó. Essas pessoas nunca vão crescer. Fico imaginando quando um problema tipo PROBLEMÃO mesmo aterrissar em suas vidinhas. Tempos atrás ouvi duas horas de reclamações quanto às condições financeiras pessoais e sobre o caos econômico limitante do país. Imaginei que a pessoa estivesse passando sérias dificuldades e até me compadeci. Mas eis que a pessoa tinha acabado de comprar um carrão último tipo. Como diria Suassuna, me senti, pessoalmente, ofendida. Eu não sou melhor do que ninguém e nem estou fazendo pouco caso do drama alheio, mas putz! Há dramas e dramas! Sou absolutamente solidária e parceira para os dramas reais. Levo muito a sério o na alegria e na tristeza, na saúde e na doença para todos os meus relacionamentos e ando muito comovida com o ponto crítico a que a humanidade chegou, com tantos refugiados passando pelas maiores humilhações, passando fome, gente doente de verdade com a vida em risco. Não desejo o mal pra essas pessoas que se acham o centro do universo e verdadeiros bibelôs que deveriam ser poupadas pela vida. Outrossim, desejo que acordem de livre e espontânea vontade, olhem para tudo e consigam, finalmente, ver o quão abençoados são, o quanto estão infinitamente acima da média, de quantas raras e belas oportunidades são feitas as vidas deles e como vivenciam coisas que a maioria das pessoas jamais vivenciarão, algumas nem sonham que tais coisas existam. E nesse dia, será impossível não dobrarem os joelhos em profunda reverência e gratidão. E mesmo quando a vida for sacana com eles, tenho fé que olharão pra isso com outros olhos e saberão que isso vai passar sem maiores dramas. Por uma vida menos dramática e mais grata!