.:Bacanices.:

Para todo o mal, a cura.

E num dia qualquer a gente se pega ouvindo Marisa Monte, cantarolando e concordando: “Quero que você seja feliz, hei de ser feliz também.” Concordando? Sim! Um dia descobrimos que já é possível passar da fase em que desejamos que um caminhão passe em cima do outro e dê ré e desejamos, verdadeiramente, que a pessoa seja feliz e que nós sejamos libertos desse fardo do ressentimento. Nesse momento, muitos têm o ímpeto de creditar ao passar do tempo essa cura, mas eu discordo veementemente. Dizem que o tempo cura tudo. Isso é uma falácia e acreditar nisso é cruel com o tempo e com a gente mesmo. É a cômoda atitude de nos isentarmos de uma responsabilidade que é toda nossa e uma incrível oportunidade para crescermos. Se permitimos sermos machucados, é mais do que justo o resgate da autoria da própria vida e, conscientemente, e à custa de muito esforço e dedicação, permitir que nos curemos. Isso é uma decisão nossa, pessoal e intransferível. E corajosa, diga-se de passagem. O tempo, a bem da verdade, não cura nada, mas permite que a cura aconteça. E esse é um processo com suas demoras que devem ser respeitadas com leveza, amorosidade e gentileza conosco e com nossas limitações momentâneas. O que eu aprendi é que esse processo não tem nada a ver com o outro. Aprendi também que não importa o tamanho da mágoa, da dor, da ferida, importa apenas o tamanho do nosso comprometimento e do nosso desejo de deixar pra trás o que nos trava o riso e pesa o coração.  Não é fácil, não é simples, não é indolor e muito menos  rápido. As pessoas que divulgam a cura instantânea devem ser as mesmas que propagam o amor instantâneo. E sabemos todos que nenhuma das duas coisas existem instantaneamente. É como se tivéssemos que depurar toda a mágoa uma e outra e outra e outra e centenas de vezes, até que não sobre nada, ou quase. Confesso que vez ou outra, alguma situação traz de volta más lembranças e solto um “filho de uma mãe!”  Mas aí lembro que gosto da mãe, do pai, da irmã e de toda a familhagem  e já é possível esboçar um sorriso e compreender que só fica o que tem que ficar e que existe, para todo o mal, a cura!

 

 

 

 

 

 

 

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