Morar em prédio é um senhor exercício de “ência”: paciência, convivência, resiliência… A gente praticamente divide a vida com um bando de estranhos que, se dermos sorte, nunca vamos ver e nem eles a nós. Mas as “modernas” e funcionais paredes, que mais parecem de papel, proporcionam momentos bizarros. Nem vou entrar nas bizarrices noturnas, vou compartilhar apenas uma recente que não sei se acho graça ou choro. No apartamento embaixo do meu mora um casal que, desde o dia da mudança, briga. Eles brigam por tudo, brigam por nada, brigam, brigam, brigam…e quando o “marido” não está, porque ele tem casa em outra cidade (e juro que isso é tudo o que sei), ele liga a noite e eles brigam por telefone. Inúmeras vezes tive vontade de sair na janela e sugerir que eles se separem, porque nem eu aguento mais tanta discussão a troco de nada. Elas são do nível: “Olha, o céu está cinza! Não! Tá é nublado! Mas cinza e nublado são a mesma coisa amor. Tá me chamando de burro? Dizendo que não sei o que é cinza e nublado?” Enfim, embora sobre vontade, eu jamais me intrometeria na vida de gente que nem conheço, oficialmente. Ah! Quando eles não estão brigando, eles cantam, fazendo revezamento de cantoria e, ás vezes, até um sofrível dueto. Cantam sábado 7 da manhã, cantam 11 da noite…cantam…e cantam…mas não encantam. Também não falta vontade de gritar um “shiuuuu”, perguntar onde deixaram a noção ou sugerir músicas para o show. Obviamente, não fiz nenhuma das 3 opções. Eis que na quinta-feira a noite, depois de um tempão, tivemos nosso jantar terapia. Só mulherada! Falação, risadaiada, a gente sendo a gente. Ontem, uma das meninas me contou que foi ao banheiro e ouviu ele comentar com a mulher dele: “Vê se pode, só mulher? Elas não convidam homem?” E segundo minha amiga, o tom era de indignação tipo “Como elas vivem sem homens?” E imediatamente pensei:” como é que a mulher dele vive com um homem troglodita desses?” Não é a toa que ela briga todo santo dia! Mas ele externou o que muita gente pensa e até acho que ele nem fez esse comentário de forma maldosa, só limitada e troglodita mesmo. Pra ele e pra um bando de gente, incluindo mulheres, uma mulher sem homem não vive, não dá conta da vida, não dá conta da casa, não dá conta da felicidade…não dá conta! Ainda não sei se acho graça, se fico brava ou se fico com dó. Estou tendendo a ficar com dó intercalando momentos de braveza e de risada, porque chega a ser cômico esse comentário vindo de alguém que só briga com a esposa todo dia, várias vezes ao dia! E tinha ali no jantar mulher casada, noiva, separada, solteiras, mas isso jamais importou ou nos definiu. Muitas vivemos nossas maiores infelicidades acompanhadas por homens e, talvez exatamente por isso, a maioria de nós aprendeu a não condicionar nossa felicidade à necessidade da presença de um homem. Somos amigas, somos felizes, nos reunimos pra celebrar a vida e pra uma noite divertidíssima só de mulheres e as solteiras estão sim abertas a viver um relacionamento saudável com um cara bacana quando isso acontecer. Fazemos nossos encontros só de mulher há anos e também há anos essas reuniões nos fazem imenso bem, algo que, certamente, foge à compreensão do meu vizinho troglodita linguarudo. Ele que não abra o olho e feche a boca pra ver! Vou é chamar a mulher dele, SÓ ELA, pro nosso próximo jantar terapia. E talvez ela redescubra o prazer de ser feliz sozinha e caia a ficha de que ter um homem chato, machista e mimizento ao lado não é exatamente o que se pode chamar de felicidade, mas uma noite exclusiva da mulherada é sinônimo de felicidade sim!