Eu fico encantada (ia escrever puta, mas achei encantada mais apropriado) e ainda me surpreendo ao ver como a vida sabe ser didática. Certa vez fiz um curso transformador. Ficou tudo muito claro, as técnicas pareceram todas muito efetivas e parecia que íamos sair dali e, finalmente, dar um jeito na vida…um jeito não, o melhor e mais bacanudo jeito. Mas, na vida, sempre tem um mas, tinha um pequeno detalhe que a pessoa que ministrava a palestra guardou para o final: “então é isso, temos as ferramentas, conhecemos as técnicas e vamos aplicá-las nas nossas vidas e vamos mudar de fase…só que antes, as mesmas velhas conhecidas situações vão se repetir na sua vida, é como um teste pra ver se a gente aprendeu mesmo e vamos ter um novo agir diante da mesma situação.” Balde de água fria porque, na verdade, mesmo no ápice do empoderamento, a gente sabe, lááá no fundo a gente sabe que não pode ver uma casca de banana no chão que vai lá e pisa, mesmo sabendo que devia desviar… Bom essa conversa toda é pra dizer que a vida tem um jeito muito doido mesmo de ensinar. Primeiro ela nos apresenta a teoria de todas as formas. Tem aquela conversa com aquela amiga, tem aquele texto, aquele insight, aquela sacada, aquela música, aquela conversa que a gente escuta meio sem querer na fila do banco, aquela propaganda no intervalo da novela e tudo vai fazendo sentido e mais sentido e mais sentido e a gente fica super confiante achando que domina toda a matéria e na hora da prova vai gabaritar. Tenho pra mim, que nesse momento, a vida não se contém e dá uma bela gargalhada, esfrega as mãos e manda a prova. E aí…batata! Todo aquele domínio da teoria de nada valeu e a gente se estabaca diante do óbvio. Temos alguns péssimos hábitos tão arraigados que parecem fazer parte de nós e por mais que a vida tente ensinar, a gente nunca (espero que quase nunca) aprende. Até bem pouco tempo atrás, eu, tolamente, acreditava que longe é um lugar que não existe! Achava que o Richard Bach era um sabichão e bem achava poético essa história…só que, como dizem, na prática, a teoria é bem outra. Longe existe e pode ser muito mais longe do que se podia imaginar e, às vezes, a gente só se dá conta disso quando já não há muito a se fazer a respeito. Tratamos a vida, os presentes da vida, com tamanha displicência como se tudo fosse estar ali ao alcance das mãos sempre que quiséssemos. E aí, perdemos a urgência em desfrutar, em experimentar, em viver…tudo parece que pode ficar pra depois, mas não pode…não deve. Parece fatídico demais dizer isso, mas, de fato, o depois pode não existir e o que estava ali tão perto pode ir pra tão longe, tão longe que vira só saudade e o e se começa a protagonizar um festival de hipóteses do que poderia ter acontecido se nada fosse mais urgente do que viver o presente. Pra esse começo do ano, desejo que vivamos com a máxima urgência, que nada fique pra depois, que os encontros não sejam adiados, que os risos não sejam postergados e que até as estabacadas sejam desfrutadas com toda a intensidade. Em um mundo de meios termos e vida morna, desejo extremos, desejo sorrisos de lascar o coração, desejo uma vida vivida visceral e urgentemente, que os sofrimentos dilacerem os corações e que as alegrias enlevem a alma. Que tudo seja vivido com intensidade tal que a vida, olhando para nós, sinta um nó na garganta e lágrimas rolem sua face em puro contentamento e que no alto da nossa prova um 10 carimbe nossa valentia em não deixar nada pra depois, nada…nem aquela história, aquela que tinha tudo pra não dar em nada, mas que por uma meninice da vida podia mudar tudo. Pena que longe é um lugar que existe!