Muito se fala que a amizade entre homens e mulheres é muito diferente e que homens são mais ponta firme uns com os outros. Pode até ser, embora eu discorde. Mas se tem uma coisa que une a mulherada, essa coisa é a traição. Não há melhor e mais eficiente despertador da solidariedade feminina. Todas as diferenças, discordâncias e birras caem por terra. Traiu uma, traiu todas! E daí surgem as mais loucas e divertidas e memoráveis situações. Talvez esse seja o momento de maior irmandade entre as mulheres. Tomamos as dores, pegamos birra e o ranço deixa marcas eternas. E ai dos maridos que um dia foram amigos do traidor! Que não ousem defendê-lo e tampouco manter a mesma amizade de antes. Amizade com a pivô da traição então, pode acabar “em morte”. Entre as mulheres, é ponto pacífico: traidoras não passarão! E é ponto de honra coletivo sair em defesa da traída oficial (uma vez que todas nós nos sentimos traídas junto). Se a traída tiver a grande sorte de ter amigas malucas, descompensadas e divertidas, momentos de reencontros com o traidor, que têm potencial máximo para serem constrangedores e desconfortáveis, viram momentos impagáveis. Se toda a raiva da mulherada pudesse ser condensada em um raio, o traidor seria fulminado. Como isso não acontece, ele é hostilizado, sacaneado e vira o centro de comentários maldosos (e engraçadíssimos) que só mulheres nesse momento de solidariedade são capazes de fazer. Se ele tinha algo de bom, isso é , solenemente, desconsiderado e cada defeitinho do infeliz é elevado à máxima potência. O que não incomodava nada torna-se um incômodo insuportável. O que gostávamos nele, passa a ser desprezível. E se, em algum momento, achamos que a amiga tinha tirado a sorte grande casando com ele, passamos a celebrar a grande sorte do livramento. Porque sim! É digno de celebração o “favor” que a traidora faz em tirar esse estrupício de perto da nossa amiga que é a melhor e mais incrível pessoa do mundo e que merece de nós todo apoio e merece da vida muito mais do que um traidor pode oferecer. Com essa rede protetiva, empoderadora e divertidíssima, é fato que esse momento tão difícil fica mais leve e mais fácil de ser superado e vira aquelas histórias que fazem a vida valer a pena. Um dia, quando todas as dores tiverem passado, o que vai ficar, pra sempre, é esse momento em que nos superamos, nos irmanamos e somos uma por todas e todas por uma, como em nenhum outro momento da vida. E então será possível ser muito grata à vida, que sabe o que tira, mas sabe, especialmente o que traz.