Vó Ana se foi e a chuva e dias nublados das última semanas não têm facilitado o duro aprendizado de viver sem ela, se é que existe isso de viver sem ela… A vida segue, mas segue meio arrastada como quem não quer deixar nada para trás. No final de semana, fui pegar um pano de prato limpo na gaveta e minha mão parou em meio ao movimento já tão habitual e automático. Meus panos de prato trazem uma assinatura: Vó Ana, que pintava e bordava, literalmente. Não tenho muitos pintados porque ela sabia que eu não gostava, preferia os bordados, os com bicos de crochê e os que ela fazia uma florzinha que parecem tulipas e são os meus preferidos. Pensei que não devia nunca mais usá-los, mas repensei que ela fez todos eles pra que fossem usados na casa da Lita dela. Como não vou usar? Mas como vou usar? Peguei o mais puído e feinho deles e assim que for possível vou escolher alguns pra guardar sem usar…só uns 2 ou 3, mas os outros vou usar e vou saber que ela vai estar muito feliz com isso porque ela não era nada apegada, nem às coisas dela nem às nossas, por isso era dona de sair por aí distribuindo nossas roupas sempre que lhe dava na telha, e como lhe dava na telha…rs. E acho que eternamente, toda lembrança dela vai ser assim, com uma dose de tristeza e uma dose de risada pelas loucuras que foram marca registrada dela por essa linda e generosa passagem por aqui quando ela escolheu e reescolheu e escolheu de novo e sempre ser a mão sempre estendida pra nós, até quando nem nós mesmos sabíamos que precisávamos de uma mão extra. A Vó Ana se foi, ficaram os panos de prato e uma falta que nunca vai ter fim. Mas ficaram também as melhores histórias, a maior presença e a mais absoluta certeza de que fomos o maior amor da vida dela. A nós resta a canção que ela nos “atormentou”durante os últimos tempos e que virou piada e que jamais imaginaríamos que faria tanto sentido agora. Uma das lembranças mais vívidas que ficou em mim foi justamente eu cantando essa canção pra ela e ela sorrindo pra mim, meio de canto de boca acho que bem sabendo o quanto ela nos enlouqueceu cantando dia após dia…”Deixa-me chorar…”