Há exatos 1 ano e 4 meses comecei a fazer pilates. Ele apareceu como a salvação pra essa pessoa aqui que adora correr, mas odeia academia, então achei ótimo. Começar as aulas foi uma experiência difícil, digamos até meio traumática. Fazia muito tempo que eu não era tão ruim em uma coisa e isso mexeu um bocado comigo. A gente vai ficando mais velha e vai, quase que automaticamente, escolhendo fazer só o que dominamos, só o que é fácil, só o que é cômodo e quando vemos, a vida tá chata que só e nem sacamos. Eu gosto de desafios, mas não gosto de me sentir incompetente e limitada e problemática e incapaz. Imagina sentir tudo isso junto! Tinha um exercício em especial que eu me sentia um nada, tamanha a dificuldade. A Fabi passava o exercício e dizia: vai, ganha, ganha, ganha e volta!” Eu ria, meio querendo chorar, porque eu nem me movia, como voltar se eu não saía do lugar? Fui melhorando aos poucos, mas cada vez que ela passava esse exercício já me dava um jeito ruim. Não é fácil ser colocada cara a cara com nossas limitações, ainda mais uma limitação tão limitada quanto essa. Mas marrenta que sou, segui fazendo o melhor que podia, mesmo achando sempre que eu podia muito pouco e devia poder mais e que era uma vergonha aquilo e, como habitualmente faço, me massacrava. Fui melhorando em um bocado de coisas, tive uma lesão seríssima no ombro e meus movimentos ficaram ainda mais limitados, mas essa foi uma belíssima oportunidade para recalibrar o olhar e celebrar cada milímetro a mais de movimento que era possível fazer com o braço. Dia desses a Fabi virou pra mim e disse: “Não imagina como fico feliz de te ver movimentando o braço desse jeito!” Imagino, porque tem hora que fico igual criança aqui na agência, abrindo os braços até conseguir encostar na parede e toda vez é uma alegria sem igual. Certamente, se não tivesse ficado quase sem movimento, não ligaria a mínima pra isso. Porque somos assim, não damos importância, até que sejamos privados, até que nos falte, até que acabe. Hoje cedo ela me passou o bendito exercício e, instintivamente, meu coração apertou e pensei: Que droga, lá vou eu não sair do lugar! E pra minha surpresa, eu saí do lugar. Não foi muito, mas já foi tão mais do que antes. Durante todo esse 1 ano e 4 meses não fui capaz de perceber cada centímetro a mais que avançava e hoje pareceu um milagre. Não foi milagre! Foi resultado de, apesar de tudo, não desistir e fiquei pensando nas inúmeras vezes que, assim como no Pilates, nos sentimos tão incapazes, mas não desistimos, nos sentimos até mesmo humilhados, mas não desistimos. E sabe o que a vida faz com quem não desiste? Quando menos esperamos ela vai lá e MILAGRE! Já somos melhores e mais capazes do que jamais pensamos ser possível. E não há melhor sentimento do que esse: sermos melhores, por mérito nosso, porque era mais fácil, mas não desistimos, porque doeu, mas não desistimos. Então nesse começo de semana emburrado torço para que seja possível não desistirmos mais vezes na vida e tá tudo bem não ser ótimo em tudo, mas nunca vai estar tudo bem, por medo de não ser capaz, nem tentar!