Tanta gente reclama da solidão, tanta gente que não suporta mesmo a solidão, eu não, eu lido muito bem com ela e até gosto de poder desfrutar dela sempre. Mas ontem…Ah! Ontem eu me senti a pessoa mais solitária do planeta. Esse tem sido um ano muito desafiador e desconfio que ao final dele ninguém vai chegar sem ter se modificado um bocado. Eu, às vezes, acho que o ano tem sido bem do sacana, mas no fundo, eu sei que as sacanagens são aquelas lições que a gente insiste em não aprender. Pois vamos aprender na marra e talvez isso seja bom, vamos ver, voltamos ao assunto no final do ano… O dia de ontem já começou mais difícil, pouco antes de acordar sonhei que a Vó Ana estava deitada no meu colo e eu enlaçava ela com meus braços, encostava meu rosto no dela e a embalava. Acordei com a vívida sensação de tê-la abraçado e aí, bom, aí você pode imaginar a saudade…Mas fui pro trabalho e nada como o cotidiano para nos tirar dos sonhos. Na hora do almoço, chegou uma mensagem de voz no meu celular e do outro lado um tão familiar, mas tão familiar “E aí Belé!” que só de ouvir isso já abri um sorriso. Era uma amiga dessas que a gente dividiu a vida inteira, e a essa altura, dizer vida inteira significa muito tempo mesmo…rs. Ela com aquele jeito tão dela de ser me disse: “Ah, comi pra caramba, engordei 3 quilos e tô aqui no parque na hora do almoço caminhando e quando eu tô assim sozinha eu lembro tanto de você e me dá tanta saudade.” Saudade! Solidão! Pronto…já deu vontade de chorar porque, em tantos momentos, eu também sinto tanta saudade dela. E seguimos conversando daquele nosso jeito meio maluco misturando risadas, lamentações, dores nos joelhos, decepções, mais risadas. E aí falamos de nossas perdas e de como é difícil superar e ela resumiu tudo “O pior é que quando a gente perde essas pessoas que faziam tanto bem pra gente, parece que o mundo apagou uma luz.” É isso! Parece que o mundo apagou uma luz e a gente ficou ali sozinho no escuro. Ironicamente, desde que a Vó Ana se foi minha vida desandou de um tanto, parece que nada tá muito certo e parece que tudo que tá errado ela daria um jeito de consertar ou pelo menos amenizar sabe? Porque a Vó Ana era assim, ela resolvia, e quando era com a gente lá de casa então, ela virava o mundo pra nos socorrer no menor espaço de tempo possível e quando a gente via tava lá ela dizendo: não se preocupe, já tá tudo certo! E tudo o que eu queria ouvir ultimamente era isso: “Não se preocupe, já tá tudo certo.” Mas não tem nada muito certo por aqui… Mas é claro que só estávamos no meio do dia e precisava de um grand finale! Fui correr, pouco antes do horário do treino começou a chover e eu até fiz uma ameaça a São Pedro, espero que ele desconsidere isso mais tarde quando nos encontrarmos. A chuva parou e fui correr porque, pra mim, a vida sempre fica melhor quando eu corro. Embora a corrida seja um esporte bem solitário, eu gosto mesmo é desse formato de correr em grupo. Eu desconfio até que poderíamos ter um desempenho melhor, mas a gente prefere correr conversando e isso é uma das melhores coisas da corrida terapia. O fato é que ontem não era bem o meu dia então, até na corrida as coisas não foram o que costumam ser. Eu estou voltando de um período parada para recuperar uma lesão no joelho que acabou afetando o quadril também, então correr 1 km demanda um grande esforço, imagina 6! Estou mais lenta e mais cansada do que o normal, faltaram algumas pessoas que sempre corremos juntas, o percurso foi longo e meio deserto, a noite começou a cair, uma chuvinha também veio para completar o cenário e quando me dei conta, estava me sentindo a pessoa mais sozinha do mundo, parecia que nem tinha gente na rua, sabe, aquelas cenas de filme mesmo…Eu nem me lembro da última vez que corri completamente sozinha e confesso, foi o treino mais triste desses mais de 3 anos correndo. E eu corria e pensava na Vó Ana, corria e pensava na minha amiga, corria e pensava em como, de uma hora pra outra, a vida sai dos trilhos e fica tão difícil voltar…corria e me sentia sozinha…e doeu o joelho, doeu o quadril, doeu o estômago e doeu a solidão. E a noite me veio o título da bacanice de hoje que é uma expressão que a Vó Ana usava e eu não compreendia com exatidão…até ontem: “SÓ COMO A LUZ DO DIA.”