.:Bacanices.:

Destralhar…casa e coração.

Recentemente, fizemos uma reforma na minha casa em Poços (Casa da Família Roque)  e eu posso jurar que a casa encolheu! Continuam os mesmos espaços, os mesmos cômodos, mas desafiando a física, juro que encolheu! Isso nos obrigou a um movimento que  achei que seria muito mais difícil: o destralhe amplo, geral e irrestrito. Saio desse processo bem orgulhosa. Eu que dou tantos significados às “coisas bobas” me desfiz de tanta coisa que nem sei. Bem no estilo “eu hoje joguei tanta coisa fora, eu vi o meu passado, passar por mim, cartas e fotografias, gente que foi embora, a casa fica bem melhor assim…”. Aliás, boa parte do tempo eu destralhei cantando essa música, Tendo a Lua, que é daquelas canções que a gente diz nostálgica: “é da minha época”! E que diz tanto para essa pessoa que vos escreve e detesta os fins, mas que conseguiu dar fim em um monte de coisas. Até dei fim nas minhas agendas de anos e anos. Sim! Confesso, sou da época das agendas. Sim! Confesso que foi muito bacana rever tudo aquilo registrado nelas. Salvei fotos, no mais, foi tudo pro lixo.

Eu fiquei impressionada de ver como guardamos coisas e mais impressionada ainda em como damos sentidos e emoções às coisas né? Na verdade, a maioria das coisas era só papel mesmo, mas tinha tanta história nesses papéis. Encontrei bilhetes de gente que nem faz parte mais da minha vida, mas que nos tempos da escola a gente jurava que seria amigos pra sempre. Encontrei registros bacanérrimos dos amigos pra sempre que são pra sempre mesmo.

Já quase no final do processo, achei o rascunho de uma carta que escrevi tem uns bons 7 ou 8 anos. No primeiro momento, titubiei, dobrei e guardei no bolso. Não estava preparada para jogar fora. Mas pensando bem, tirei do bolso, li e vivi uma série de emoções. Primeiro achei graça e pensei que escrevo bem mesmo, porque a carta ficou bacanuda, embora a pessoa não merecesse. Depois achei o fim eu ter me prestado àquele papel e mais o fim ainda por ter sido bacana com a pessoa que foi muito sacana comigo. E olha que aquele era um dos vários momentos ápices da sacanagem. Mas por fim, rasguei o rascunho com o sentimento de que eu fui o melhor que pude em um momento em que a outra pessoa foi o pior que pode e fiquei orgulhosa. Porque eu me dei conta que uma das coisas mais difíceis da vida é isso, ser bacana com quem é sacana. E nesse momento não sobrou muito espaço para o julgamento de que fiz certo ou errado, só coube uma paz de espírito inexplicável. E eu pensei comigo: Eu fui o melhor que eu pude, o melhor! Honrei minha palavra, honrei meus sentimentos, honrei o sonho que sonhei junto e que foi lançado na semana que eu escrevi essa carta. Rasguei e sorri, como que destralhando o coração dessa mágoa que ocupava há tanto tempo meu coração.

Dias depois assisti a um vídeo que a pessoa encerrava dizendo exatamente isso: seja o seu melhor, independente da outra pessoa estar sendo o seu pior. SEJA O SEU MELHOR! Ouvi isso como Deus sussurrando e mais uma vez eu senti uma paz e me peguei cantarolando “Cartas e fotografias, gente que foi embora, a casa fica bem melhor assim…E lendo teus bilhetes, eu lembro do que fiz/Querendo ver o mais distante e sem saber voar/Desprezando as asas que você me deu…” E mais uma vez, essa música fez todo sentido e me pareceu a trilha perfeita para os nossos necessários e merecidos destralhes… de quem desprezou as asas que oferecemos, da casa e do coração.

PS: Momento confissão embaraçosa: Não consegui jogar fora minha coleção de papel de cartas! Que minha mãe não me leia! (risos)

 

 

 

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