Eu não gosto de finais e também não gosto de começos. Fico desconfortável em ambas situações e por isso, passado o Natal, eu sempre gostaria de dormir e acordar lá pro meio de janeiro, quiçá no final de fevereiro depois de passado o Carnaval e quando a vida pode, finalmente, continuar.
Meus começos de ano não são bons, mas esse está sendo especialmente desafiador e toda vez que a vida aperta, a saudade também. Fui muito mal acostumada e vivi toda a minha vida tendo quem tornasse a vida mais fácil, mesmo quando tudo estava difícil…como está agora.
No meio de um cenário com um monte de coisa fora do lugar, eu vir pra Guaxupé não foi exatamente o melhor no momento, mas foi o necessário. Então vim deixando boa parte do coração lá, vim deixando coisas sem poder consertar, vim querendo ficar. Mas não é de hoje que a vida insiste em me dizer que querer nem sempre é poder.
Nesse momento, não posso nada. E no meu coração tem lá marcado que quem poderia tudo não está mais por aqui e isso deixa tudo mais triste…Me deixa mais triste porque a gente acredita na finitude de tudo e se esquece que, como escreveu lindamente o Carpinejar, amor é o que fica depois de tudo…infinitamente.
Vim carregada de pesos e malas. Nunca aprendo que não vou precisar de nem metade das coisas que levo pra casa.
Fiz 4 viagens da garagem até meu apartamento e juro que levei várias horas até colocar tudo no lugar. Fiz a arrumação sem conseguir arrumar o coração. Ao final, senti uma das malas pesadas de um lado e fui ver o que era já que eu tinha tirado absolutamente tudo de dentro dela. Ao abrir um bolso lateral achei um saquinho lotado de moedas antigas, algumas notas de dólar e de cruzeiro. Impossível não sorrir e impossível não sentir o coração apertar.
Vó Ana tinha por hábito esconder dinheiro na minha mala. Ela guardava todas as moedas e trocos da semana, colocava num saquinho e escondia pra não ter que aturar meu mimimi de que não precisava. Na nossa outra agência, tínhamos o costume de tomar café da manhã juntos e eu que comprava o pão, então ela deixava o dinheiro pra isso e para o que eu precisasse.
Quando ela começou a esquecer as coisas ela não esqueceu seu compromisso de cuidar de mim e pediu pra minha mãe nunca esquecer do dinheiro da “Lita” (que é essa que vos escreve).
Ela tinha muita moeda e nota antiga guardada e é provável que em um dos finais de semana que fui pra Poços e ela com a doença já avançada, ela tenha se lembrado desse gesto e o fez sem se dar conta que era um dinheiro sem valor. Ela também não se deu conta de que anos depois, achar esse saquinho no dia de ontem iria significar tanto, muito mais do que se cada nota e cada moeda tivessem valor monetário. Foi o jeito dela dizer que sabia que estava complicado e que estava cuidando da gente, mesmo de longe. E foi o jeito de aquietar um pouco meu coração tão sobressaltado e preocupado.
Depois de tanta chuva e tanta tristeza, Vó Ana veio, mais uma vez, como fez por todos os dias da minha vida, como um pote de ouro no fim do arco-íris, aquele mesmo que vem depois da chuva sinalizando dias melhores e solares e floridos, como a Vó Ana sempre providenciou.