Tenho ido pouco pra minha casa em Poços, parece que a cidade ficou mais longe, parece que eu ando mais cansada e parece que a gasolina virou ouro de tão cara. Um trio de peso que tem rareado minhas idas e aumentado em muito o tempo que fico sozinha por aqui em Guaxupé. Ainda tem a pandemia que na minha bolha nunca deixou de existir e meu extremo zelo pra não contaminar quem me importa…Tem também a vida, os compromissos da vida…Mas existe, no meio de tudo isso, um espaço sagrado que todas nós zelamos, um espaço do encontro, um espaço de bem querer, um espaço que é abrigo pra tudo o que fomos, somos e seremos.
Na minha última ida pra Poços o universo conspirou e até a mais cheia de compromisso de todas nós confirmou presença logo de cara o que é claro foi motivo pra muitas piadas internas, tirações de sarro e risadas. O fato é que fomos todas almoçar na casa da Denise. Além de uma vida inteira de amizade, a batata frita nos une então, é claro que tinha que ter batata frita e do melhor tipo, a “do nosso tempo”, chips, cortada manualmente e com aquele sabor de saudade sem igual. Na nossa época não existia esses pacotões de batatas fritas congeladas…e ainda bem, porque as chips são as melhores da vida.
Nossos encontros são sempre regados a risadas, por tudo e por nada, tem sempre a Helaine buscando na memória alguém de antigamente que ela reencontrou recentemente, tem sempre as lembranças e agora tem sempre um papo de remédios, doenças, dores aqui e dores ali… Estamos envelhecendo e disso não podemos fugir, mas ainda conseguimos nos divertir com as novas descobertas da idade. A noção de finitude também começa a frequentar nossas conversas com mais seriedade, mas ainda assim, entremeadas com boas histórias e mais risadas. Meninice e velhice, lado a lado em perfeita harmonia. Meninice e velhice…
Em meio a conversas sérias, risadas, danette de doce de leite e uma vida inteira de amizade o marido da Dê nos proporcionou um túnel do tempo engraçadíssimo e num piscar de olhos tinha trilha das antigas, passinhos, versões erradas das músicas em inglês que até hoje cantamos errado, risadas pelo visual trash dos nossos ídolos da época, suspiros pelo Paulo Ricardo e seu olhar 43 …tinha no presente o nosso passado em forma do bom e velho “nosso tempo”.
Nosso tempo…olhando daqui ele parece de fato bom e velho. Olhando daqui também parecemos de fato boas e já um pouco velhas…Mas olhando bem mesmo somos exatamente as mesmas meninas que se conheceram nos tempos da escola e tiveram a grande sorte de não se perderem por aí e de seguirem compartilhando as meninices e as velhices dos nossos dias…passado e presente da nossa velha infância!