Não gosto desse hiato que engloba o fim e o começo do ano…simplesmente não gosto talvez minha alma solar já pressinta o reinado sombrio das chuvas.
Desde que cheguei aqui em Poços, não teve um só dia que não choveu. No começo foram chuvas passageiras, depois pancadas de chuva e agora uma chuva sem fim.
Ontem a noite comentei com a minha mãe: “se não parar a chuva, vou ter que tomar antidepressivo.”
E hoje, nem a chegada da sexta-feira que sempre me anima trouxe alívio.
E fiquei pensando que toda essa tristeza devia virar bacanice…
Também fiquei pensando de como a natureza e seus ciclos nos ensinam, nos inspiram…
Sempre me rendo ao espetáculo dos ipês que se desapegam de tudo e simplesmente confiam que vão florir, ainda que por poucos dias, mas nesses dias reinarão absolutos em meio a paisagem quase sempre seca e sem vida que os circundam.
Sempre penso na mágica da primavera que chega colorindo tudo depois de tanto frio, uma verdadeira ode ao renascimento, ao triunfo do novo, um exemplo de como a vida tem seus ciclos e cabe a nós vivermos cada um deles…
Na teoria sei de tudo isso, mas minha alma solar sofre demais com o ciclo das chuvas. É um baque físico e emocional. Cada dia a mais de chuva é um dia a menos de energia e sempre fico tentando resistir, mas acho que só hoje compreendi que com a vida resistência é nossa escolha mais equivocada.
Talvez a chuva desse período venha nos ajudar a faxinar a alma e o coração. Venha trazendo, como diz na canção, alívio imediato (ok, não tão imediato assim). Talvez seja hora de abrirmos mão do que já foi, aceitarmos o que não deu certo, sermos gratos pelo o que deu e seguir em frente de alma limpa lavada por tanta chuva.
Gosto de uma frase de um dos meus seriados prediletos da vida, Ally McBeal que diz algo semelhante a isso: “Olhar para trás e reprisar o seu ano. Se não lhe trouxer lágrimas, de alegria ou tristeza, considere seu ano perdido.”
Talvez tanta chuva seja o convite para reprisarmos nosso ano e chorarmos por tudo, pelas alegria, pelas tristezas, por quem escolheu ir e por quem escolheu ficar. Talvez seja o momento oportuno de desaguarmos, esvaziarmos, deixarmos fluir para então abrirmos, de fato, espaço para o novo e celebrarmos o eterno.
E enquanto desaguamos, que nos preparemos para receber o sol quando voltar! E que ele reine absoluto em 2023!
Que em 2023 a gente desague com a chuva, brilhe como o sol e nos desapeguemos de tudo na certeza de que novas flores e cores irão brotar. Que confiemos no fluxo abundante e cíclico da natureza e da vida!
E mesmo triste e cinza e molhado, é sexta-feira amor!