Ontem saí da Ballaio e fui ao supermercado comprar umas frutas pra passar a semana. Cheguei e tinha aquela mexerica da casca bem lisa e brilhante e super grudada na fruta. Olhei pra ela e pensei: “Chegou o tempo da nossa mexerica Vó!” Coincidentemente (embora acredite que coincidências não existam, são sempre sinais do Universo pra nós), a nossa mexerica chegou bem na véspera do seu aniversário. Não, o dia de hoje não é triste, mas também não é alegre como costumava ser. Eu me pareço demais com a minha mãe, mas também trago em mim tanto da minha Vó. E, curiosamente, eu sempre me atentei muito pra isso. Sempre gostei de reconhecer em mim os traços dela, nosso jeito tão parecido de sentir frio, nossa pele que sempre ressecou igualzinho, nossos gostos tão parecidos, nossa torcida pros meninas e meninas do vôlei e do basquete, embora ela adorasse futebol também e eu já não tanto. E tem o algodão doce. Ah! Algodão doce que sempre comprava pra mim e pra ela e isso não consegui superar e nunca mais, desde que ela se foi, eu comprei algodão doce, mas sei que um dia vou fazer isso de novo e ela vai ficar felizona, só que ainda não…desculpe aí Vó! E hoje é isso tudo que traz ela tão presente. Tem dia que fico com preguiça (ou frio) de passar o hidratante na pele e é impossível não aparecer um sorriso bobo no rosto quando olho pra minha perna e vejo a perna dela…igualzinha…igualzinha. Assim como é impossível não pensar nela cada vez que ouço a Consagração à Nossa Senhora Aparecida na voz do Padre Vitor. E eu sei que por todos os dias da sua vida eu estivesse em suas orações diárias e acho que ela, ainda hoje, deve bem dar uns toques em Nossa Senhora pra cuidar de mim. Mas o fato é que Eu adoro mexerica e já escrevi um milhão de vezes sobre isso, sempre gostei, mas hoje, chupar mexerica quentando sol é muito mais do que simplesmente chupar mexerica quentando sol. Todo ano, nessa mesma época, tínhamos esse hábito. Friorenta que sou e sempre fui, não via a hora de chegar esse momento. Quando trabalhava no Vila, trocava fácil meu almoço por mexerica e sol com ela. E acabou virando um ritual: Eu chegava em casa, pegava as mexericas, passava pela janela dela, pedia sua benção e já falava: “Vamos quentá sol?” Ela parava o que estivesse fazendo e logo eu ouvia os passos dela no corredor chegando pro sol. E a gente ficava ali, como se tudo que bastasse na vida fosse aquele momento e talvez nos bastasse mesmo. E escrevendo aqui, com o sol entrando pela janela da minha sala, quase posso ouvir os passos tão próprios dela, quase posso pegar em seu avental branco com um paninho azul no bolso e quaaaase posso ouvir a sua voz já meio rouca pela idade. Quase… Que pena que o quase é tão pouco. Mas hoje, pra comemorar o seu aniversário, tem sol, tem céu azul e vai ter mexerica Vó! E mandei celebrar a missa. E não passei hidratante. E teve bacanice pra senhora! Só não tem a senhora, mas sei que tenho a sua benção. Quase…”Bença Vó”!