Todo ano é a mesma coisa, mal começa o ano e já começa a desculpa mais esfarrapada pra não fazer o que precisa ser feito: “o ano só começa mesmo depois do carnaval.” Essa afirmação sempre me irritou. Acho que propaga uma visão tão equivocada e preguiçosa e aí fico reclamando disso enquanto toco a vida com a sensação de que sou meio trouxa por não estar esperando o carnaval pra só então começar a viver o novo ano. Todo ano a mesma coisa e minha reclamação muda o quê? Nada! Então mudei eu o jeito de olhar para isso e não é que pode ser uma coisa bem bacana? Os começos e recomeços sempre despertam nosso melhor: os melhores desejos, os melhores planos, a melhor esperança… E é uma judiação que isso fique restrito a apenas uma vez por ano. Vamos ampliar isso de todas as formas. Adoro um texto, que dizem ser da Clarice Lispector (não garanto), que diz assim: “Segunda-feira é mais difícil porque é sempre a tentativa do começo de vida nova. Façamos cada domingo de noite um réveillon modesto, pois se meia-noite de domingo não é começo de Ano Novo é começo de semana nova, o que significa fazer planos e fabricar sonhos.” Sempre domingo a noite fico pensando nisso e me ajuda a começar a segunda, que já madrugo pro pilates, com uma energia bacana. E foi pensando nesse texto que consegui ter esse novo olhar pra essa coisa tão institucionalizada de que o ano, no Brasil, só começa depois do Carnaval.
Que o ano comece na virada, recomece no carnaval, podemos acrescentar à essa lista de recomeços o ano novo astrológico que acontece dia 20 de março. Acho que durante todo o ano podemos arrumar datas simbólicas que nos façam resgatar essa coisa cheia de esperança e alegria dos começos. Comecemos quantas vezes forem necessárias. Celebremos a cada domingo de noite um réveillon modesto, em honra à Clarice! Celebremos cada nova sexta-feira fechando a semana e começando o final de semana. E de celebração em celebração, de recomeço em recomeço passearemos por 2020 cheios de esperança renovada. Celebremos, recomecemos, “Clariciemos”!