Ah! Como eu gosto de ser mineira! Gosto da mineirice, gosto da mineiridade, gosto de Minas. Das sortes que dei na vida, nascer mineira é motivo de especial gratidão. E olha que foi por pouco, nasci quase na fronteira com São Paulo, mas graças a Deus o quase me salvou. Não que eu tenha nada contra os paulistas, é que tenho coisas demais a favor de Minas. Gosto da cor do céu, gosto da vida interior e no interior, gosto do jeito desconfiado e ao mesmo tempo cordial, matuto e sábio, desconfiado, mas de um coração enorme, igual coração de mãe, onde sempre cabe mais um.
Das coisas lindas de Minas, abrir a casa como quem abre o coração e convida a fazer morada é daquelas delicadezas que só reconhece a profundidade, outra alma mineira. Se abriu a casa e chamou pra mesa da cozinha, considere-se da família. A cozinha de uma casa mineira é o coração e comida é afago, e café é afeto e risada é amor.
Minha casa em Poços sempre foi movimentada. Somos uma família grande que sempre tem agregados. Receber pra nós é abraçar quem chega e por isso nos esmeramos para que o visitante sinta-se em casa, acarinhado em cada detalhe. Aliás, acho que essa é uma tradição que passou nos nossos genes. Quando minha avó era viva, a casa dela sempre teve cheiro de café coado e ela sempre sacava um quitute, nem que fosse só biscoito de polvilho. E ao redor da mesa, a conversa corria solta e ficava difícil não ouvir gargalhadas, afinal, estávamos comungando de um momento sabidamente especial do qual temos imensa saudade, mesmo que hoje ele ainda aconteça todo santo domingo.
Se for ver bem, acho que esse meu gosto por cozinhar está intimante ligado a tudo isso. Não me lembro bem quando comecei a me interessar por cozinha, mas o fato é que hoje isso é uma das minhas especialidades. Se você chegar no meu apartamento em Guaxupé, crente que vai dar de cara com um belo almoço, pode esquecer! Seja por preguiça ou por qual motivo for, você nunca vai ver isso acontecendo, a menos que esteja previamente combinado. Esse negócio de arroz com feijão não faz parte dos meus dotes. Mas forando isso, pode contar com meus dotes culinários. Sim, culinários, nada dessa versão gourmet. Coisa que gosto é ter a oportunidade de experimentar um prato diferente, tentar descobrir os segredos e replicá-lo em casa. Coisa que gosto ainda mais é receber os amigos pra um jantar, como hoje, por exemplo. E não bastasse chamar Cecília, sou igualzinha a minha mãe em todos os detalhes. Penso no cardápio muito antes, faço as compras com antecedência e vejo tudo o que precisa pra fazer dessa ocasião um momento especial de pleno afeto e consideração. É meu jeito de agradecer e celebrar a grande sorte dos bons amigos.
Dizem que cozinhar não é um serviço, é uma forma de amar, e eu tenho que concordar. Tenho também que aproveitar a oportunidade pra propagandear aos quatro ventos esse meu dote afinal, de tanto ouvir “Hum tá uma delícia, já pode casar!” resolvi me abrir à possibilidade de agarrar o pretendente pelo estômago mesmo. Cada um luta com as armas que tem e as minhas são panelas, pratos, taças, garfos, facas…Ah! E não conta nada não, mas a cozinha, vai ficar pra ele arrumar!
Que conjunto de palavras mais delicioso de ler…
Te vi nele… me vi também. .. somos todos um, afinal!
Grata por esse espaço tão encantador…
Grata pelo comentário tão encantador e incentivador. E é uma honra “ser um” com você.
Mais bacanices fechando com chave de ouro a noite maravilhosa que foi ontem! Valeu! E que São Gonçalo comece a agir logo para o pretendente experimentar suas delícias culinárias!