Desde o final do ano passado eu tenho me sentido mais cansada do que o normal. Trabalhei muito, sim, mas também tive a oportunidade de descansar e segui cansada. Eu acordo cansada, passo o dia cansada e deito cansada. Fui ao médico, fiz um monte de exames e, acho que pela primeira vez na vida, nem minha habitual companheira, a anemia, foi registrada. Mas não importa, com ou sem motivo, sigo cansada. Ontem, pela milésima vez virei pra minha mãe e disse: “Nossa, estou tão cansada!”. Na hora me toquei e disse, na verdade não é cansaço, preciso arrumar outra definição e arrumei: estou desiludida com a vida. Ao dizer isso achei tão triste. Fazemos automaticamente essa leitura que desilusão é, necessariamente, triste.
Fiquei com essa coisa na cabeça e ontem mesmo, antes de dormir, achei que o tema poderia render uma boa reflexão compartilhada por aqui. Até comecei a escrever esse texto na minha cabeça…mas só agora resolvi colocar ordem nessas ideias soltas de ontem.
A conclusão que cheguei é que triste mesmo é achar a desilusão uma tristeza e não um presente, e não uma benção e não qualquer outra coisa absurdamente oposta à tristeza. A ilusão sim é uma tristeza. Estar desiludida é estar desperta, é a vida dando um sacode pra gente acordar, é recalibrar o olhar e o coração para nossas velhas certezas que já não são mais tão certas assim. Estar desiludida talvez seja a melhor coisa que pode nos acontecer. Parece triste e acho que até é um pouco mesmo porque não é simples olhar para aquilo que sempre esteve ali, de um novo jeito, de um jeito mais realista. A realidade pode ser muito doída em tantas vezes. Mas nada é mais doído do que viver na ilusão. Pode até ser que tenha nos feito algum bem (ínfimo) em algum momento, mas estou certa de que o dano é muito maior e diretamente proporcional ao tempo em que escolhemos continuar iludidos.
Continuar, dia após dia, alimentando ilusões, criando expectativas e nos negando a enxergar as coisas, pessoas e situações como são de fato e não como fantasiamos é o maior ato de auto amor que podemos ter conosco. Pra começar, sugiro mudarmos o nosso olhar triste e pesaroso pra palavra desilusão e ao invés disso, nos abrirmos pra ela, abrirmos um sorriso largo, abrirmos nossos braços e coração e aconchegá-la no peito em meio a um abraço apertado de alegria e gratidão. É isso, aconchegar nossas desilusões junto ao peito e deixá-las agir com total liberdade.
Os iludidos que me perdoem, mas desilusão é fundamental!