Hoje, faz exatamente 10 meses sem a Vó Ana. Hoje, faz exatamente 10 meses que a vida tem me ensinado a lição mais dura: viver sem. Simbolicamente, a passagem dela foi o início de uma das fases mais difíceis da minha vida. Eu cunhei isso apanhando diariamente, praticamente uma surra por dia. Porque é isso que acontece quando damos pesos excessivos aos aprendizados que são necessários e contrários ao que achávamos certo. Não sei quantas vezes tenho repetido isso: pior fase da vida, pior fase da vida, pior fase da vida. A bacanice de hoje é também para exorcizar isso! Tolamente achei que era para aprender a viver sem e ando atenta (e apegada) a todas as faltas. Ontem acordei,nem sei porque, olhei a palma da minha mão. No final, passei horas de mãos dadas com a Vó Ana, achava triste aquela palma da mão tão branquinha que sempre foi encardida de tanto fuçar na terra. Então descobri tanta semelhança com as marcas dos dedos dela e então a ficha caiu: era com! O aprendizado era com! Na falta, faltamos! E aí fica fácil nos distanciarmos, lamentarmos, resmungarmos e chorarmos. Chorei tanto por tanto tempo, como poucas vezes. Chorei por tudo, pela falta de tudo: pela falta da Vó Ana, pela falta da corrida, pela falta de esperança, pela falta de horizonte, pela falta do sol, pela falta do calor, pela falta de tênis novo, pela falta de ir pra casa com a habitual constância, pela falta de sorte…pela falta…pela falta… E a resposta estava lá, na palma da minha mão! Nunca vai ser sem a Vó Ana! Nunca! Nunca vai ser o que falta! Nunca! Então, é hora de recomeçar essa história: hoje, faz 10 meses com. Com a Vó Ana sempre presente! Com mãos estendidas, com singelezas, com cuidados, com carinhos, com lembranças, com saudades, com surpresas, com reviravoltas, com novas escolhas, com união, com pessoas me olhando demorada e cuidadosamente, com gestos surpreendentes, com generosidade…com…com…com…