Eu tenho uma alma meio anarquista então, minha primeira tendência é brigar com esses lugares comuns que viram moda. Mas tenho que confessar que alguns lugares comuns, alguns clichês e tantas frases feitas são os melhores conselhos que podemos receber. Não sei o motivo, mas dia desses, estava usando a pia do banheiro, olhei no espelho e me lembrei vividamente de uma das melhores sensações que já senti na vida: cruzar a linha de chegada da Meia Maratona do Rio. E me veio toda a mágica do momento que nem sei se tem palavra que possa traduzir. Pra mim, o que ficou marcado e que veio à minha memória nesse dia, foi sentir o corpo todo arrepiando numa proporção que eu desconhecia. Foi inacreditável! Eu tava cansada, claro, mas tava inteiraça e nessa prova acontece um trem doido, tem um retorno que aliás, não chega nunca, que dá acesso à reta final. Demorou uma vida pra chegar nesse retorno, foi o trecho que mais vi gente quebrando, passando mal, parando…mas eu só queria chegar. E depois desse retorno ainda tinha “uma vida” de prova e foi muito engraçado porque todo mundo tava reclamando que a marcação oficial da prova estava errada e muito diferente dos relógios, que cada quilômetro daquele pedaço estava valendo por 10, enfim…mas todo mundo numa alegria que dava gosto de ver. E em um dado momento, quando já foi possível ver o pórtico de chegada, o calor estava absurdo, e eu comecei a arrepiar dos pés à cabeça. Sentia o arrepio subir das costas pro pescoço, arrepiava os braços, as pernas…arrepiava a alma. Eu não tenho foto desse momento, mas imagino que foi o maior sorriso que já abri na vida. Olha que eu tenho um bocão, mas minha impressão é que ela era pequena demais pra alegria que estava em mim naquele momento. Esse momento foi tão significativo que agora, enquanto escrevo, estou com os braços arrepiados e um sorriso bobo no rosto, só de lembrar!
Mas porquê isso virou bacanice? Porque no momento seguinte a relembrar toda essa emoção fiquei pensando no meu 2019 absolutamente morno, sem arrepio nenhum, só situações ruins e pesadas se sucedendo e eu me rendendo. Fiquei pensando também que meu 2019 é a vida de anos de tantas pessoas que simplesmente desistiram e nem se lembram mais de como é sentir um arrepio dessa magnitude. Como o ano está só começando e tem toda essa energia do vamos fazer diferente, pensei que de repente essa bacanice possa virar algumas chaves e despertar em alguém o sincero desejo de viver algo arrepiante em 2020. Que seja um só momento desses, já vai ter valido o ano.
A gente precisa fazer novas escolhas…melhores escolhas. A gente precisa fazer muito mais coisas que nos façam felizes, coisas que amamos, coisas que nos arrepiam o corpo e a alma. E se alguém até esqueceu essa sensação, como eu esqueci ano passado, esse é o momento de experimentar tudo de novo até achar esse “amor”, esse arrepio. Depois é “só”, sempre que possível e também sempre que parecer impossível, acrescentar mais e mais e mais e mais disso no correr dos nossos dias. Como o mais sagrado compromisso desse novo ano: FAZER MAIS O QUE VOCÊ AMA!