“Você é basicamente uma planta com emoções complicadas.”
Adoro essa frase e sou a rainha das emoções complicadas e por isso preciso tanto desse combo: água, sol e terapia.
Eu sempre tive muitos gatilhos e nem sabia que eles existiam. Quando aprendi, me dediquei a ser mais atenta a eles e a mim então, sempre identifico um gatilho no exato momento em que ele dispara uma explosão de sentimentos. Isso não impede os estragos, mas me faz sentir com um certo (ilusório) domínio.
Eu sou fanzaça da Paola Carosella que é uma super chef de cozinha e uma pessoa iluminada, inteligente, bem sucedida…todas aquelas coisas que eu queria ser quando crescesse e não sou. Pois eu tenho uma grande amiga que também é fã dela e dia desses estávamos comentando sobre ela e essa amiga disse: “Ela é foda e é da nossa idade!”
Pronto! Gatilho! Imediatamente pensei: sou um fracasso! E todo dia desde então me sinto um fracasso.
Eu nunca fui muito fã de aniversários e não tem nada a ver com ficar mais velha, embora eu esteja ficando mais velha muito mais rápido do que imaginei. Eu, nem sei bem o motivo, sempre achei que o aniversário só valia a pena ser comemorado se a gente olhasse pro nosso ano e tivesse lá uma grande conquista. Então, como minha vida é meio medíocre em termos de grandes conquistas, nunca vi motivo pra celebrar de verdade. E é por isso que a história da idade da Paola foi um gatilho.
Daqui pouco mais de uma semana é meu aniversário e de novo não tenho nenhuma grande conquista pra comemorar. Nem lembro muito dos sonhos pro futuro, mas sei que o futuro que chegou não é lá muito parecido com o dos sonhos. Talvez, durante a vida toda, eu tenha sonhado errado. Sonhado planos que não eram meus de verdade, sonhado roteiros que não coincidiam com os roteiros que a vida escreveu pra mim.
Nessa última semana os equívocos têm me assombrado, as más escolhas, a insistência mais equivocada e desastrosa da vida, a escolha por uma profissão que ninguém respeita e que não faz diferença no mundo…o fracasso.
Eu também gosto muito de uma frase que diz que quando a gente se compara a gente sempre perde e que não devemos comparar o palco dos outros com o nosso bastidor.
Eu sei que os bastidores da Paola foram e são de muita luta, muito abrir mão disso e daquilo pra chegar lá…
Eu também sei que os meus bastidores têm sido de muita luta, muito mais do que eu achei que teria e nesse ano tudo tem saído tão errado e diferente do que eu imagino ser o certo. Em algum lugar, diante de tanta luta, eu achei que devia merecer mais, mas acho que a vida não concorda muito com isso. E talvez o meu “menos” seja olhado por alguém como algo a se conquistar…vai saber.
O que sei é que esse sentimento de fracasso vem dessa mania besta da gente esperar coisas de mais da vida. Eu sempre acho que a vida também esperava mais de mim e por isso estamos ambas frustradas. Porque é isso que dá a gente criar muita expectativa. Talvez seja um bom plano para o meu próximo ano novo particular não ter grandes expectativas, sonhar miúdo, desejar miúdo e parar de me comparar. Talvez a Paola também tenha lá seus dias de frustração e de fracasso. Talvez…
Não sou quem eu queria ser quando crescesse, mas tenho sido o melhor que eu posso e meus gatilhos todos têm me feito mais valente. Sem criar muita expectativa, mas já criando, espero que num futuro breve eu possa olhar o meu ano e enxergar e valorizar mais a valentia do que os fracassos, mais os acertos do que os erros…mais no lugar do menos.
E hoje, encerro a bacanice com uma frase emprestada do Caio Fernando Abreu em quem tanto me reconheço. E talvez essa frase mereça ser um luminoso lá em casa pra quando a sensação de fracasso me visitar. Ninguém que tenta da maneira mais bonita que sabe é de fato um fracassado…ainda que pareça!
“Acho que fiz tudo do jeito melhor, meio torto, talvez, mas tenho tentado da maneira mais bonita que sei.”