No final de semana estávamos conversando sobre o tal lado B das pessoas. Algumas pessoas convivemos anos e anos e anos e temos aquela sensação de que conhecemos como a palma da nossa mão, mas chega lá um dia que a pessoa “muda da água pro vinho.” Nesse caso, muda do vinho pra água e apresenta sua pior versão. Além do choque pela mudança, talvez o pior sentimento seja: “a pessoa mudou tudo isso mesmo ou eu que estava cega?” Sinto informar que chances são de que tenha acontecido a segunda opção. Já li muito sobre isso, já assisti várias palestra e todos são unânimes em afirmar que as pessoas dão pistas de suas atitudes e de quem são de fato o tempo todo e o outro lado ignora, escolhe não enxergar (até mesmo inconscientemente), cria uma imagem que não corresponde à verdade, enfim…o outro, sempre dá o ar da graça do seu lado B. E como é difícil lidar com isso né? Eu e você estamos cansados de saber que não devemos criar expectativas, fantasiar, esperar demais e todas essas teorias que nos deixam com um pé atrás. Mas eu não sei viver a vida com um pé atrás e nem consigo imaginar como alguém consegue. Tá, eu sou intensa, exagerada, 8 ou 80, mas acho que nem é essa questão. Como você pode ter o pé atrás anos e anos e anos com uma pessoa que você divide a vida? Eu acho esse conselho um contrassenso. Como é que vamos nos relacionar com um alarme eternamente ligado? Como vou construir relações sólidas desconfiando da outra pessoa? Como vou ser amiga de alguém e ficar o tempo todo pronta pra levar uma facada nas costas? Como alguém pode se casar com outro alguém, dividir a vida esperando que essa pessoa vai se transformar em um monstro? Como é que você pode viver, se doar, ser sempre a mão que ampara pensando que na sua velhice a pessoa por quem você abandonou inclusive muitos dos sonhos é capaz de lhe colocar em um asilo porque é mais fácil e cômodo do que devolver um pouco de todo amor e cuidado que recebeu? Acho que a vida seria cruel demais, ainda que as pessoas, com seu lado B possam vir a ser absurdamente cruéis. Nessa conversa nos questionávamos se somos ingênuas demais. Eu acho que sim, mas também prefiro assim. As chances são grandes de que haja decepção e atitudes que nos chocam vindo do outro? Sim! Colecionaremos algumas dores? Certeza que sim! Mas eu acredito também que encontraremos pessoas que têm sim o lado b, mas que jamais serão capazes de usá-lo contra outra pessoa, pessoas que são igualmente “ingênuas” e colocam os dois pés onde quer que estejam e lidam com profundo zelo com as pessoas que lhe são caras. Eu acredito mesmo que é sempre uma escolha, mais consciente até do que podemos imaginar, mas também acredito que encararmos vez ou outra um lado b é um preço alto, mas válido a se pagar por relações mais inteiras. E, se dermos a chance, podemos conhecer lados bs perfeitamente suportáveis, charmosos e nada cruéis e podemos também mostrar o nosso lado b, também suportável, nem tão charmoso, com emburramentos e manias, que procura com todo empenho não ser cruel e não causar dores aos outros e aí a grande mágica das relações acontece e se estabelece irmandades, sintonias, encontros de almas e nos descobrimos todos um. E eu acredito que é a isso que se dá o nome de amor e como dizem, amor não é dor. Se o lado b de alguém lhe dói, não fique com o pé atrás, tire os dois pés e vá procurar sua turma. É certo que encontrará lados bs tão bacanas que até poderiam ser o lado A.