.:Bacanices.:

Não precisa mudar…

Fiz 50 anos e até que não foi nenhum baque, mas acho que ando meio complicada dos sentimentos e tenho tido crises tardias. Quase dois meses após completar o cinquentenário (como dizia meu amigo Paulo), eis que me encontro em plena crise existencial, me achando a última dos mortais e que há, no mínimo 15 anos, vem fazendo tudo tão errado que quando mais precisei, não pude contar com a mínima empatia de quem eu imaginava ser parceria pro que desse e viesse. Levei de boa? Obviamente que não, mas coisas boas e pessoas boas aconteceram e achei que eram águas passadas. Mas sexta passada, essas águas voltaram como um redemoinho trazendo gatilhos e mais gatilhos culminando em um domingo bem difícil.

Já escrevi sobre isso como a gente tem essa mania besta de dar valor a quem falta, a quem não se lembra, a quem não se importa. E essa é daquelas famosas escolhas burras. Por exemplo, essa semana fui em dois médicos dos quais gosto e admiro imensamente e ambos celebraram meu feito de correr a Meia Maratona do Rio e ainda baixar meu recorde pessoal em 10 min. Foi bacana o reconhecimento deles? Demais! Mas ainda tem no meu coração aquele lugarzinho que se ressente porque quem eu contava não foi capaz de desejar boa sorte, vibrar comigo, ficar feliz por mim…mas um monte de gente bacana ficou, mas faltou…

E quando a falta se agiganta cometemos um erro ainda mais grave e começamos a fazer exatamente o que eu fiz essa semana: damos poder de destruição a essas pessoas. Elas nos destroem. Destroem tudo o que temos de bom e nos achamos um nada que ao longo de 15 anos não conseguimos dar um só bom motivo para criar laços verdadeiros.

Mas esse é um processo que vem vindo de algumas semanas. Eu achei que tudo bem mudar um pouco para que algumas dessas pessoas gostassem de mim, afinal gosto tanto delas. Eu achei que tudo bem “fazer um esforço” para que elas se importassem comigo e me considerassem amiga afinal, as considero tanto. Eu achei que tudo bem ter que  ir contra os meus princípios e me forçar a gostar de quem não gosto e é personagem vital de alguns dos meus piores momentos, afinal, alguém que gosto tanto achava isso tão importante…inclusive muito mais importante do que a nossa amizade.

E dessa obrigação e foraçação de barra para tantas mudanças por quem não se importa acabei eu me abandonando e detonando algumas crises, a maior delas de inapropriação, me senti a pessoa mais errada no lugar mais errado e que só faz tudo errado. Drama? É provável que alguém leia esse texto e ache que sim. Mas também é provável que tantos outros que já viveram situações semelhantes podem se reconhecer e não se acharem extraterrestres porque o sentir e se permitir viver e expressar tudo isso não é coisa de gente dramática, mas coisa de gente valente que não se contenta com o raso e com o menos da vida e que em algum lugar sagrado sabe que merece e deseja mais.

E como escrever é terapia, as crises viraram bacanice de sexta e amanhã tem treino de corrida e café coletivo e gente bacana que não quer me mudar e que gosta de mim do jeito meio torto, mas de verdade que sou. E corrida e gente bacana reenergizam a gente  e talvez as crises venham não pra gente se enxergar e se mudar, mas pra enxergarmos com novos olhos o outro e a vida e fazer novas e melhores escolhas. Afinal, é quase primavera e jamais vimos um girassol sonhando em ser rosa ou ipê. Que possamos ser quem somos, que possamos ser amados do jeito que somos e caminhemos ao lado de pessoas que nos olhem e digam: “Não precisa mudar, vou me adaptar ao seu jeito, seus costumes, seus defeitos, seus ciúmes suas caras, pra quê mudá-las…”

 

 

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