Eu tenho mais de 40 anos, mas sou a caçula da Família Roque. E ser caçula tem lá seus muitos benefícios. Um deles é ser a Lita da Vó Ana. A Vó Ana é irmã da minha mãe, mas o laço que nos une não é de tia e sobrinhos, por isso, pelo coração do meu irmão mais velho, logo que ele começou a falar, ela virou Vó. De certa forma ela também virou nosso pai e, ao lado da minha mãe, fez a gente virar gente e ter uma vida em que nada do que realmente importa nos faltou, muito pelo contrário. Ao longo do tempo, inúmeras vezes, a vida colocou à sua frente a opção de escolha e ela nunca titubeou e sempre escolheu a gente…sempre!
Eu poderia ficar aqui o dia todo contando história atrás de história de como ela sempre foi maluca, de quantos traumas e momentos engraçados (agora, porque na hora a gente ficava fulo da vida) ela é protagonista. O fato é que eu não imagino a vida sem ela. O fato também é que o tempo passou rápido demais e hoje, com saúde frágil e lucidez um tanto comprometida, ela não é nem sombra da boa e velha Vó Ana que eu conheci. Muita coisa mudou, ela já não tem muita clareza das situações, mas uma coisa continua a mesma: o cuidado dela com a gente.
Toda vez que vou pra Poços ela pode esquecer um bocado de coisa, menos do que ela fez a vida inteira: cuidar da gente e eu sempre fico emocionada quando ela esconde dinheiro trocado na minha mala pra eu poder comprar pão durante a semana e quando ela já deixa separado o dinheiro pra ajudar na gasolina pra garantir que eu venha pra Guaxupé, mas volte logo pra casa.
Voltei hoje pra Guaxupé e como é sagrado, toda vez antes de pegar estrada, fui me despedir e ela toda preocupada porque ainda não tinha recebido. Disse pra não se preocupar e que logo eu estaria de volta. Fui então colocar as malas no carro e quando volto tá lá ela no meio da cozinha com um pacote de balas que eu havia comprado pra ela no sábado, ela parece criança com bala. De pé, toda franzina, tentava com dificuldades abrir o pacote de balas pra dividir comigo. Nesse final de semana, o pacote de balas era tudo o que ela tinha e não teve dúvidas em escolher dividi-lo comigo.
A gente e essa mania besta de ficar procurando amor sempre fora, sempre longe, até mesmo onde nem tem amor pra nos ser dado. A gente complica tanto né? Hoje cedo, a Vó Ana me deu a maior aula de amor dessa vida e mostrou que nada pode ser tão grande quanto os pequenos gestos do verdadeiro amor. E a grande verdade da vida então me pareceu óbvia: amor é micro…e doce!
É nos pequenos gestos que está realmenfe o verdadeiro amor! Lindo texto!
Que lindo Amiga!
Emocionante e verdadeiro esse seu texto.
Que possamos sempre encontrar e reconhecer esse Amor que é tão mágico!
Parabens pelo texto e beijos pea você e pea Vó Ana