Eu sou uma pessoa que gosto das tradições, dos rituais…acho que trazem certo encantamento pra vida. Embora tenha pouca paciência, sempre achei que existia uma magia nas esperas e no tempo certo para cada coisa. Sempre esperei ansiosa pelo tempo da jabuticaba e não havia alegria maior quando chegava na feira e via uma casca de jabuticaba caída no chão, sinal de que a melhor época do ano havia chegado. E sempre foi assim com tudo na vida: a espera das férias, a espera da mexerica, a espera do milho bom pra pamonha, a espera do aniversário, a espera do Natal…tudo no seu devido tempo. E enquanto esperava, vivia. Vivia a rotina dos dias normais, porque disso é feito a vida, de dias absolutamente normais, comunzinhos mesmo…até para vivermos com alegria redobrada os dias raros, especiais e tão esperados. Fiquei vendo o carnaval esse ano. Começou uma semana antes e terminou uma semana depois. Sendo assim, que graça teve a real semana do carnaval? Percebe? Que mania é essa nossa de transformar o raro em comum? Aí, é claro que já tem ovo de Páscoa no supermercado. Aliás, já tinha antes mesmo do carnaval. Que atropelo é esse? Daqui a pouco já começam a forçar a barra com o dia das mães e vem as férias e acabam as férias e quando vemos, em pleno outubro, começa a ter panetone no supermercado e alguns shoppings já começam a decoração de Natal. Em outubro? Pra quê isso? Quando chega dezembro, já estamos tão de saco cheio do bom velhinho que nem achamos que ele seja tão bom assim, vamos ficando rancorosos lembrando das bolas fora dele em vários anos…e ficamos rezando pra chegar logo dia 25 e acabar esse tormento vermelho de natal. E então, livres do natal, já começam as cobranças de felicidade instantânea pelo novo ano, nova vibe, novo tudo…mesmo que tudo continue velho como sempre. E virou o ano já surge a Globeleza rebolosa na TV e carnaval de novo…e tudo de novo…e o que era raro ficou comum e nos perdemos na correria dos dias sem aproveitar de verdade nada, sem esperar com aquele frio na barriga por nada…comendo frutas com gosto de nada produzidas a fórceps o ano inteiro. Eu vou esperar que as coisas voltem ao normal e que o raro seja raro e que os dias comuns sejam bem vividos e a espera pelos dias especiais traga as famosas borboletas no estômago e que o natal seja em dezembro e que vivamos um dia de cada vez sabendo que há tempo para todas as coisas debaixo do céu!