.:Bacanices.:

Sinto muito.

Sou uma pessoa de extremos, dos meios termos quero distância e se tem uma coisa que detesto é o morno. Pessoas, sentimentos, relacionamentos, vida…nada disso pode ser morno pra mim. Eu e Deus, que já deixou bem claro que abomina gente morna. (Valeu Deus! Mandou benzaço!) Diante disso, é com certa vergonha que confesso que minha vida andava em banho maria , cozinhando em fogo baixo. Aí, resolvi colocar lenha nessa fogueira e me inscrevi para a minha primeira meia maratona da vida: Meia Maratona da Cidade Maravilhosa. Um senhor desafio de 21 km para alguém que estava confortável (e morna) correndo apenas 5km. Corrida é um esporte que demanda um grande esforço do coração, eu, já passada dos 40, meia maratona se aproximando, seguindo a orientação da minha treinadora (exigência, pra falar a verdade), fui ao cardiologista. Ok! Também acho que eu precisava ir ao psiquiatra, mas cada coisa a seu tempo. “Valéria Cecília, pode entrar”, ouço me chamar e agradeço o livramento de quem estava com uma tosse danada e faltava bater o queixo com os 17 graus da sala de espera. Entro, sento e o médico me diz: ” Oi Valéria, o que te traz aqui? Sente alguma coisa?” Foi como se ele tivesse acionado um gatilho e, numa fração de segundo, milhões de respostas passaram pela minha cabeça, numa sucessão daquelas frases que fazem tanto sentido em determinadas situações da nossa vida que a gente praticamente compartilha a autoria: “sinto lonjuras doutor, sofro de distâncias” foi a primeira delas a aparecer seguida por “sinto muito por tanta gente sentir tão pouco”, e encerrando com “sinto saudades do tempo, do vento, do sol, dos pedaços de mim que ficaram pelo caminho e de quando tudo era possível”. Lembrei do quanto meu coração se ressente com traições e o quanto vem sofrendo com essa minha mania besta de fazer escolhas equivocadas em nome dele…” É quando ao longe ouço o eco de uma voz repetir: “Valéria…Valéria…” também em uma fração de segundos sou trazida de volta à realidade e como que sofrendo uma súbita amnésia respondo: “Não, não sinto nada.” Voilà! Traição! Sinto muito! 

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