.:Bacanices.:

Só um pãozinho.

Já faz quase uma década que moro aqui em Guaxupé sozinha e faz quase uma década que recebo afetuosos sorrisos,  olhares de dó e sincera solidariedade toda santa vez que peço 1 pãozinho. Até eu estranho porque lá em casa em Poços é tudo de muito, chego na padaria e vou logo pedindo 10 pães. E os sorrisos/dó/ solidariedade se repetem quando compro 1 bife, 2 bananas, 3 fatias de mussarela e 2 de presunto que não sou muito fã…Uma cena que não me sai da memória é da minha volta pra Guaxupé. Fui na Copasa liberar o fornecimento de água pro apartamento. Tava sem movimento então a atendente puxou conversa: “Tá mudando de casa ou de cidade?” Respondi que sou de Poços e estava recomeçando a vida aqui. Achei que a mulher queria até me abraçar pra me consolar. Lembro vividamente da expressão de dó no rosto dela acompanhada da seguinte fala: “Não! Mas Poços é tão bom! Muda pra cá não. Eu que queria morar em Poços. E ainda por cima sozinha? Você tem certeza? Quer mesmo que eu ligue a água? Jura que quer? Se mudar de ideia é só me avisar! Boa sorte viu? (muita dó nesse viu)” Acho graça, mas também fico comovida com a preocupação dela pelas minhas escolhas. As pessoas, de modo geral, acham tão triste morar sozinha. Eu acho tão bom (e bota ênfase nesse tãooo booomm). Todo dia chego em casa, abro a porta e agradeço por ter pra onde voltar, por hoje o apartamento ter a minha cara e sou grata pela coleção de bons momentos vividos aqui e por toda a história de tristeza e más lembranças terem ficado no 105, meu antigo apto da minha antiga vida. Claro que tem momentos que sinto falta de casa. Logo chega o inverno e tem dia que abro a porta na torcida para que, como por encanto, minha mãe estivesse na cozinha terminando a sopa de macarrão com feijão. Sinto falta de comer bolo quente saindo do forno e tomar junto leite gelado, da correria pro lado oposto quando o telefone toca só pra não ter que atender, das brigas pelo lugar na mesa, do movimento, da comida, de gente falando ao mesmo tempo… uma verdadeira narquia. Mas quando passo tempo demais longe daqui, sinto falta de mim e da nova vida que construí cuidando de cada detalhe, da rotina que criei priorizando só o que e quem me faz bem. Gosto tanto dessa vida de morar sozinha que recebo como carinho a dó de quem me vê comprando um pãozinho só e  volto pro carro sempre com um sorriso de canto de boca no rosto, achando graça e pensando: Ah, se elas soubessem! O sorriso seria de puro orgulho e uma pontinha de inveja…Sim! É só um pãozinho e uma vida toda minha!

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