Não sei se você viu um vídeo de uma senhorinha bem senhora mesmo, cabelos brancos, pele enrugada…alma de criança…soltando pipa. A filha filmando a mãe diz: “Mãe, vem fazer comida!” A mãe responde sem pestanejar: “Não senhora! Vou soltar pipa até cansar!”
Impossível ver o vídeo e não aparecer um sorriso bobo. Impossível também não buscar o que nos faz deixar as obrigações de lado e desejar fazer aquilo por puro prazer…até cansar… Primeiro que deu uma vontade danada de soltar pipa, sempre adorei e nem me lembro há quantos séculos não faço isso. Agosto é mês de vento, perfeito para soltar pipa, pensei saudosa. Depois deu uma vontade de ser capaz de responder desse jeitinho para as obrigações da vida: “Não senhora! Vou soltar pipa até cansar!” E esse soltar pipa, metaforicamente, representa aquilo que a gente ama ou amou um dia fazer e não faz mais. Lembrei de um texto lindo da Marina Colassanti que diz tudo: ” A gente se acostuma, mas não devia.” Não devíamos nos acostumar a fazer nada por obrigação, por hábito, por qualquer outra coisa que não seja por querermos. Estamos nas férias e não vejo uma só criança brincando na rua. Nas férias a gente brincava o dia todo, até cansar. Depois disso, acho que o até cansar de prazer foi sendo substituído por um até cansar de saco cheio, de não aguentar mais ou não conseguir mais.
Temos nos acostumado com tanta coisa que até parece normal. Mas não é. E foi preciso que essa senhora me lembrasse disso: que soltar pipa até cansar é o único até cansar que vale a pena. O único!