Nos dias de sol queremos mais é nos jogarmos na vida. Parece que viver se torna urgente: queremos sair, queremos andar, queremos resolver isso, fazer aquilo, aproveitar o dia até o último raio de sol. Nos dias nublados, parece que a gente quer mesmo é se esconder da vida. Parece que adiar o viver se torna urgente: queremos ficar em casa, queremos hibernar, queremos adiar isso, não fazer aquilo até que a última gota de chuva caia. Gosto de uma frase que diz que os dias nublados dão cada saudade besta. Algumas bestas, algumas boas, mas todas saudade. E nesses dias nublados, tenho exercitado estar presente em mim e tenho descoberto tantos inquilinos. Alguns antigos moradores que julguei ter despejado há tempos, outros novos que me assustei em descobrir que já faziam morada em mim. Essas viagens internas são sempre insólitas e, se permitirmos, transformadoras. Por vezes esquecemos de destralhar os nossos porões internos e acaba não sobrando muito espaço para o novo e presos ao passado perdemos o presente do presente. Se achar…se perder…dois lados da mesma viagem por nosso infinito particular. E vagando entre o hoje e o ontem, entre sonhos embolorados e memórias tomadas por teias de aranha descubro a fonte de tanta nostalgia que sorrateira, mesmo em dias de sol, por vezes me toma a alma: é que tem muita saudade morando em mim!