Toda santa vez que morre alguém, imediatamente nos lembramos da vida. De súbito, nos damos conta de como ela é rara, de como o que importa é viver, é amar, é aproveitar, é ser feliz…todas aquelas coisas que devíamos lembrar todo dia ao nos levantarmos, mas não. É a velha história do dar valor só quando perde. Deitamos toda noite na certeza de que a vida é algo que nos pertence e que no outro dia vamos acordar. Dia após dia temos essa certeza e vamos dando tão pouca importância a isso. Pouca importância não; não damos importância nenhuma e tomamos como líquido e certo que a vida nos pertence. Que ilusão, ainda mais quando a única certeza mesmo é a morte. Na certeza de que a vida nos pertence e na ilusão de que ela vai demorar a chegar ao fim, vivemos com uma displicência sem tamanho e todas essas coisas que ganham importância quando alguém morre, no outro dia já não têm importância nenhuma. Acordamos, ligamos o botão do automático e seguimos, mediocremente. Onde foi parar essa comovente declaração de que a vida é tão rara? Onde está o nosso compromisso de viver mais e melhor? Amar, aproveitar e ser feliz então, só por um descuido e se o universo conspirar a favor. Imagina só, todo o universo ter que se mobilizar para que sejamos minimamente felizes e apenas por uma fração de segundos?! E no correr dos dias a vida passa por nós e só vamos dar valor quando a próxima morte cruzar o nosso caminho. De novo lamentaremos, de novo diremos que a vida é rara, um sopro e todas essas coisas poéticas. Vamos nos comprometer a dar um basta a tudo que não nos faz felizes, vamos lembrar dos amigos que não encontramos hoje porque sempre temos a certeza do amanhã e vamos jurar que aquele encontro, dessa semana não passa. Vamos nos emocionar, vamos pensar na vida, vamos nos questionar sobre os sonhos que abandonamos, vamos ver tudo o que não gostamos e que toma grande parte dos nossos dias. Vamos, por fim, nos comprometermos a viver a vida. É isso! Vamos viver a vida! E chega o amanhã, e acordamos e…claro! Ligamos o automático e seguimos…lamentavelmente, sobrevivendo com lampejos de vida entre uma morte e outra. Que pena! A vida é, de fato, tão rara e a nós cabe, como missão de vida, viver a vida, meu bem!