Se tem uma coisa que não dominamos é o tempo. Não importa nossa vontade, ele passa. Mas com essa coisa do horário de verão, 2 vezes por ano temos esse poder…adiantamos e atrasamos o relógio e nos sentimos, ainda que por alguns segundos, mestres do tempo. Na meia noite de sábado para domingo mais uma vez teremos a impressão de dominar o tempo. Vamos lá e, simplesmente, alteramos a rota dos ponteiros e voltamos no tempo. Parece mágica! Quisera eu ter, de fato, o poder de voltar anos e anos e anos…e nem é pra mudar a rota da vida não, é só para promover alguns reencontros, matar umas saudades que vez ou outra parecem que nos matam. Fiquei lembrando que eu sou, há anos, oficialmente, a acertadora de relógios da família. E até uma década atrás, acertava os meus relógios, os relógios lá de casa, os relógios da minha mãe, os relógios da minha Vó Benedita e os da Vó Ana. Passava toda a manhã comprometida com isso e se eu não estivesse em casa, ninguém mexia em nada, só eu. Hoje, restaram apenas poucos relógios e muitas saudades. Domingo não vou estar em casa para acertar os relógios da minha mãe, mas sei que quando for pra lá no Carnaval estarão lá à minha espera e confesso que adoraria que também estivessem à minha espera, como sempre estiveram, Vó Ana e Vó Benedita. Nem me importaria de passar todo o domingo arrumando todos os relógios do universo se fosse para, como no filme do Superman, rodar a Terra ao contrário para de fato voltar no tempo…num tempo em que eu chegava e tinha que ir logo tomar a benção da Vó Benedita pra ela saber que eu já tinha chegado e fazer “Bú” pra assustar a Vó Ana que escandalosamente se sobressaltava e gritava e era motivo de riso bobo toda santa vez. Do meu tempo de vida, eu passei muito tempo com elas e por sorte e graça hoje vivo “vendo” e sentindo elas em mim no jeito de ser, nas escolhas que por vezes faço só para honrá-las, nos gostos e cheiros que vêm do nada e invadem a alma…Infelizmente, nosso mágico momento de mestres do tempo é ilusório e limitado, mas a saudade…ah, a saudade ultrapassa tempo e espaço e pra ela, voltar só uma hora é tão, mas tão pouco que chega a doer… Domingo acaba o horário de verão…mas continua a saudade…eternamente até que nossos relógios voltem ao mesmo fuso.